A cultura empresarial de baixar os custos da folha de pagamento demitindo velho e contratando jovem com salário reduzido não está sendo debatida na reforma da Previdência Social.

Está mal contada a história que estamos publicando sobre as mudanças que o governo federal pretende fazer na Previdência Social, entre elas a de aumentar a idade mínima de aposentadoria para homens (hoje 55 anos) e mulheres (atualmente 48 anos), para 65 anos. Está faltando na conversa o que mais assusta o trabalhador: a cultura das empresas privadas de demitir o funcionário considerado velho antes que ele consiga o direito à aposentadoria. Ele é desligado já quando se aproxima dos 50 anos, numa decisão que não tem nada a ver com força física ou intelectual. Ou com dar uma cara mais jovem à empresa. Tem a ver é com baixar o custo da folha de pagamento. Aqui lembro duas coisas: o trabalhador veterano não é caro por ser velho. É caro por ter se puxado e feito uma carreira profissional. E acaba substituído por um jovem que também é prejudicado: ganhará menos e receberá tarefas em dobro. Na maioria dos casos, esse jovem também se puxou e tem um currículo acadêmico respeitável, o que lhe dá condições de desenvolver um bom trabalho.
No setor público, não é muito diferente. Os velhos só não são demitidos devido à estabilidade prevista em lei. Mas são relegados a um canto da sala. Nas universidades federais, os professores sabem que suas chances de conseguir bolsa para pesquisa diminuem com o avanço da idade. Pergunto o seguinte:
_ Olhe o seu ambiente de trabalho e conte quantas cabeças brancas existem. Poucas, né? Estariam escondidas no banheiro? Ou gastando sola de sapato à procura de emprego? Aposto na segunda opção.
Um trabalhador não é competente por ser velho ou jovem. Mas porque ele se empenhou e investiu na sua formação. Isso é um fato, independente da questão cultural de cortar a folha de pagamento via a demissão dos mais antigos. Como a história acaba, todos sabemos: os que conseguiram se reinventar dão uma banana para as empresas e o setor público. Mas a grande maioria acaba no subemprego e tendo a amargura por companhia.
Chegamos ao xis da questão. Por estar pesquisando os rumos da profissão de repórter, leio, assisto e escuto a vários noticiários. O material que divulgamos sobre a anunciada mexida na Previdência é enorme. Mas, em termos gerais, deixamos de lado a questão cultural sobre a idade do trabalhador. Ela é importante e o seu esquecimento na pauta de notícias é um dos fatores que afastam os nossos leitores, o que aprofunda a crise nas empresas jornalísticas.

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