A falta de comando do governador Sartori aumentou o caos na segurança pública

Imagine-se a bordo de um navio em alto mar, navegando em meio a uma severa tempestade. Você entra na cabine de comando e não encontra ninguém no leme. Essa é a imagem que o atual governador do RS, José Ivo Sartori (PMDB), passa para os gaúchos do seu governo. E essa sensação de que ninguém está no poder tem exercido uma influência forte na atual onda de violência que varre o Rio Grande do Sul, em especial a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Sempre que o cidadão, o bandido e o policial olham para o Palácio Piratini e têm a sensação que o seu ocupante não sabe o que está fazendo na área de segurança pública, nas ruas instalasse um salve-se quem puder. Já aconteceu antes, basta vasculhar os registros na história do Estado. A situação do governador é complicada: não há dinheiro para pagar em dia os funcionários, nem para tocar as obras públicas. Na Assembleia Legislativa, tenta convencer os deputados a apoiar um pacote de medidas, na sua grande maioria, impopulares e de efeito duvidoso de seus resultados.
Essa é a conjuntura. Mas ela não pode ser o motivo de Sartori deixar a sensação de que não está no leme. Outros governadores, como Pedro Simon (PMDB), Olívio Dutra (PT) e Yeda Crusius (PSDB), enfrentaram crises muito semelhantes à de hoje, e não lembro de terem dado a sensação de estarem afastados dos problemas de segurança pública. Mais uma coisa: levando em conta todas as limitações que a situação econômica do Estado impõem ao atual governador, nada justifica as decisões erradas que tem tomado na condução dos assuntos da segurança. Como, por exemplo: a nomeação de Cezar Schirmer, ex-prefeito de Santa Maria.
Não se trata da competência de Schirmer para tratar dos assuntos de segurança. Mas do fato de ter sido o prefeito de Santa Maria quando aconteceu a tragédia da Boate Kiss –na madrugada de 27 de janeiro de 2013, um incêndio matou 242 pessoas e feriu outras mais de 600. A nomeação de Schirmer para a segurança foi uma bofetada na cara dos gaúchos. Além de ele ter ficado marcado pela tragédia, ainda há o fato de hoje ser o chefe dos delegados que conduziram as investigações da Kiss e dos bombeiros que trabalharam no incêndio.
O governador poderia ter nomeado Schirmer para qualquer outro cargo, menos para secretário de Segurança, em substituição ao Wantuir Jacini, outra escolha errada do governador. Jacini foi secretário da segurança do Mato Grosso do Sul. Natural de São Gabriel, ele é delegado aposentado Polícia Federal (PF) e viveu a maior parte da sua vida fora do Estado. Portanto, longe dos nossos problemas. Mais uma coisa: logo que assumiu o governo, Sartori fez mudanças na Polícia Civil e na Brigada Militar (BM), que paralisaram investigações importantes. Esta paralisação deu tempo para os bandidos se reorganizarem. Um dos resultados da paralisação das investigações é o recrudescimento do roubo de carros e o arrombamento de caixas eletrônicos no interior do Estado.
Como repórteres, nós temos que analisar a onda de violência como quem procura as causas da queda de um avião, em que nunca existe um único fato, mas uma sequência de acontecimentos. Portanto, não podemos atirar o atual descontrole da segurança pública somente nas costas da crise econômica. Claro, ela é um dos motivos. Mas não é o único. Basta dizer que apesar de estarem com seus salários fatiados e muitas de suas viaturas caindo aos pedaços, os agentes da Polícia Civil, a BM e os outros órgãos da segurança estão trabalhando. Falta o governador botar a mão na massa.

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