A telentrega de drogas vai acabar com as bocas de fumo e a briga por território dos traficantes

Assim como os aplicativos ocuparam o lugar dos táxis a telentrega de drogas veio para ficar e mudar a maneira de operar do comércio ilegal de cocaína e maconha. Foto: Polícia Civil/ divulgação.

Nascida nos anos 90, a telentrega de drogas  foi uma resposta do comércio ilegal de cocaína e maconha  a fuga dos consumidores classe média das bocas de fumo que se tornaram um lugar perigoso devido as disputas por território entre os traficantes.  Essa disputa ganhou contornos de barbárie com o surgimento das facções criminosas que desalojaram os antigos chefes do tráfico, conhecidos como  “patrões” ,  e os substituíram por gerentes que respondem  ao comando das facções, geralmente um  preso.  Na sua grande maioria, os gerentes são jovens e  não tem as mesmas relações afetivas, políticas e sociais com a comunidade ao redor da boca de fumo que tinham os antigos “patrões” que  garantiam com mão de ferro  aos moradores a segurança ,  o respeito as famílias e a  prestação de assistência social.  Esse tipo e auxilio sempre foi bem vindo porque a maioria das bocas de fumo no Brasil ficam dentro de favelas, regiões habitadas por trabalhadores de baixa rende onde falta tudo.

A história que estou contando da relação das bocas de fumo com os seus clientes classe média não foi escrito em livro. Existe alguns pedaços dela espalhados por  trabalhos acadêmicos e trechos em filmes e publicações. No final do novembro a repórter Adriana Irion e o fotógrafo  Ronaldo Bernardi publicaram na Zero Hora uma reportagem bem completa de uma operação policial sobre a telentrega de drogas. O grosso do conteúdo da história que estou contando  vem das conversas entre os repórteres com os traficantes, moradores do entorno da boca e com policiais, principalmente os antigos, que são conhecidos  como “ratos de delegacia”. As primeira notícias sobre telentrega de drogas apareceram no Rio de Janeiro, no final dos anos 80.  Aqui, em Porto Alegre,  foi  pela segunda metade da década de 90.   No início da telentrega  foi muito mais um modismo do que uma necessidade. Ela começa se tornar uma necessidade com o acirramento das lutas pela boca de fumo  entre o traficantes.  Lembro de ter ouvido sobre o  assunto em uma conversa que tive com um dos “patrões”  de uma boca,  em Novo Hamburgo,  na Região Metropolitana de Porto Alegre.  Na ocasião, eu estava investigando para o jornal o assassinato do médico Marco Antônio Becker,  executado a tiros na noite de 4 de dezembro de 2008, em Porto Alegre – tem dezenas de matérias sobre a história na internet.   Acabamos falando sobre o comércio de cocaína na cidade.  Nos anos seguintes tive conversas semelhantes  com traficantes em Porto Alegre, velhos policiais e amigos e colegas de vários estados que lidam com cobertura policial.

Fiz esse relato para poder afirmar que a história que estou contando não é opinativa. É fato. Na semana passada conversei com um economista sobre o assunto. Ele me  alertou que o logística dos traficantes é a mesma de um empresário do varejo:  há um atacadista, um comerciante e o consumidor.  Hoje o consumidor não tem como se abastecer direto na boca de fumo.  Se tentar, ele acaba sendo assaltado ou morto por uma bala perdida.  Dentro dessa lógica a  figura do motoqueiro que faz a telentrega é fundamental.  Em Porto Alegre a telentrega começou com motoqueiros  independentes.   Hoje a distribuição se profissionalizou. Conversei com um velho delegado, ainda na ativa, sobre o caso. Ele tem uma teoria interesse.  Ele disse que a exemplo dos aplicativos de transporte de passageiros  que acabaram com o monopólio dos taxista, os serviços de telentrega de drogas  vão acabar com a necessidade da existência de uma da boca de fumo. Sem a boca de fumo não tem motivo para os traficantes continuarem na sua luta por território. Com o serviço de telentrega agora o conceito de território é outro porque os clientes estão espalhados pela cidade. O delegado também chamou atenção a consolidação desse nova maneira de operar dos traficantes irá obrigar a polícia a mudar a sua tática de repressão.

O que o  delegado falou é válido para o Rio Grande do Sul.  O Rio de Janeiro a situação é outra. Lá, há muito tempo,  os milicianos – bandos formados por policiais militares – disputa território com os traficantes não pela boca de fumo. Mas para ter o controle da comunidade e ganhar dinheiro vendendo serviços para os favelados.  Inclusive já existe algumas conversas circulando de que em algumas favelas cariocas os traficantes abandonaram a disputa por território com os milicianos e continuam com o seu negócio pagando proteção como qualquer outro comerciante da área.  Em qualquer canto do mundo o comércio de drogas anda sempre na frente da repressão policial porque ele se reinventa  todos os dias.  Se não acreditar basta dar uma olhada nas estatísticas.  Como isso acontece é uma boa história para contarmos aos nossos leitores.

Deixe uma resposta