Agências de conteúdos podem financiar jovens repórteres para investigar se há relação entre o atentado ao comitê do PSDB, a morte na sede do PMDB e o Incêndio no DEP.

Fechou uma semana sem que a polícia tenha encontrado o fio da meada que una, ou descarte, os três acontecimentos ocorridos em Porto Alegre entre a madrugada e tarde do último dia 18, uma segunda-feira: o atentado a tiros ao comitê do PSDB, o incêndio criminoso em uma sala do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) onde eram guardados documentos relativos a uma apuração de fraude, e a morte de Plínio Zalewski, coordenador da campanha do candidato do PMDB à prefeitura, encontrado morto na sede do próprio partido, um trágico episódio que a polícia trata como suicídio e que, como era de se esperar, causou comoção suficiente para paralisar por 24 horas a campanha eleitoral.

Porto Alegre tem uma das mais acirradas disputas eleitorais da sua história recente. E os três casos têm um enorme potencial de causar danos às duas candidaturas que chegaram ao segundo turno. Porém, a maneira como os policiais estão conduzindo as investigações dificilmente irá responder ao quesito sobre a existência, ou não, de vínculo entre os três acontecimentos. Essa resposta é fundamental para a opinião pública.

Por que a descrença no trabalho policial? Vejamos: a Polícia Civil tem três delegados, de delegacias diferentes, trabalhando nos casos: um investiga a morte de Zalewski, outro a invasão das redes sociais do coordenador e um terceiro apura o incêndio no DEP. Já a Polícia Federal (PF) destacou um delegado para investigar o atentado à sede do PSDB. Todo repórter policial experiente sabe da tremenda resistência que existe entre policiais para a circulação de informações sobre casos em apuração. Investigadores da mesma delegacia dificilmente trocam informações entre si. Imaginem se pertencem a quatro delegacias diferentes, sendo uma delas da PF, ligada a outra esfera da administração pública.

A falta de comunicação entre os policiais abre uma importante porta para o trabalho do repórter. No que chamo de “Terra de Ninguém”, o repórter encontra o que eu descrevo como um lugar povoado por personagens que guardam informações valiosas sobre os casos, mas não despertaram o interesse da polícia, envolvida com outro foco da investigação. O caminho para encontrar esses personagens, ou um fato, é voltar no tempo e estabelecer o cotidiano da figura principal da história. É no dia a dia dela que orbitam pessoas e fatos descartados pelos investigadores, mas que podem nos dar uma matéria exclusiva. Já me aconteceu de descobrir em uma conversa com o jornaleiro da esquina a pista para uma reportagem inédita.

Lembro o seguinte: pelo fluxo de opiniões e informações circulando sobre os três episódios nas redes sociais, vejo que há um enorme interesse das pessoas em saber o que aconteceu. E esse interesse não deve acabar com a eleição do próximo fim de semana. O que deverá diminuir com o fim da campanha é a pressão sobre o trabalho dos policiais envolvidos com as investigações, que passarão a dividir seu tempo e sua atenção com dezenas de outras diligências em curso. Inclusive a imprensa, por carência de pessoal e recursos, deverá reduzir o número de repórteres envolvidos na cobertura.

Frente a está conjuntura surge uma oportunidade de ouro para as agências de conteúdos. Que tal montar um pool e financiar uma equipe de jovens repórteres para esmiuçar esses casos? Se conseguirem esclarecê-los, farão história.

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