Os desempregados pela globalização escolheram Trump. E os do Brasil, qual será o perfil de político que ajudarão a eleger?

Sempre que uma notícia sacode o mundo, como foi o caso da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o jovem repórter deve olhar ao redor para verificar se as condições que sustentaram o acontecimento não estão no seu cotidiano. O voto do trabalhador que perdeu o seu emprego para a globalização da economia foi importante para eleger Trump. No meio do mar de 12 milhões de desempregados no Brasil, temos centenas que há anos vêm perdendo as suas vagas por conta da globalização. Empregos que sumiram com a crise econômica podem voltar com a retomada do crescimento, mas os levados pela globalização não retornam mais por estarem espalhados pelo planeta. No Brasil, os desempregados atingidos pela globalização estão, principalmente, nos Estados do Sul. No Rio Grande do Sul, um dos exemplos foram os operários das fábricas de sapatos do Vale do Rio dos Sinos. A entrada massiva de produtos chineses, fabricados por mão de obra barata e com impostos baixíssimos, devastou os empregos no Vale. E as indústrias que sobreviveram acabaram se adaptando à globalização: umas foram para a China, outras para o Nordeste brasileiro, em busca de incentivos fiscais generosos e mão de obra menos valorizada. Em outros setores da economia nos Estados do Sul do Brasil, como o metal mecânico, centenas de empresas fecharam as portas devido à enxurrada de produtos estrangeiros.
Sobre o destino dos trabalhadores desempregados pela globalização nos Estados Unidos, lembro de uma conversa que tive, no final da década de 1990, com um repórter americano que estava em Ijuí, cidade agroindustrial do norte gaúcho. Ele fazia matéria sobre soja, eu sobre a ocupação de terra pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST). O encontro foi articulado por um amigo meu, jornalista alemão que era correspondente no Rio de Janeiro. O papo foi à noite, em um boteco, tomando cerveja e comendo uma à la minuta. A conversa girou em torno da luta pela terra e a expansão das lavouras de soja. No meio do assunto, ele contou uma história que ficou gravada na minha cabeça. Disse que seu pai e vários amigos da família tinham perdido os empregos devido à transferência das empresas onde trabalhavam para a Ásia. Lembro que ele falou o seguinte:
– Conseguiram outro emprego. Mas recebendo metade do que ganhavam antes. O pai ficou uma pessoa de mal com a vida.
Nas conversas com colegas, sempre que falamos sobre os rolos da economia americana, recordo a história de Ijuí. E aqui, no Brasil, o que ocorreu com os trabalhadores demitidos pelos efeitos da globalização? Muito embora o número não seja conhecido, sabemos que é significativo. Nas fronteiras gaúchas, a globalização gerou um fato curioso trazido pelo acordo do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Em 1991, o Brasil e quatro países vizinhos fizeram o tratado com o objetivo de facilitar a globalização dos seus negócios. A enormidade de produtos argentinos e uruguaios que entra no Brasil levou à falência centenas de empresas. Também foi responsável pela quase extinção de uma figura típica: o chibeiro, pequeno contrabandista que vive de atravessar mercadorias pela fronteira. O Mercosul tornou livre o trânsito de mercadorias e decretou a morte do chibeiro.

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