Temer barganha nas entrelinhas do seu discurso

Um dos caminhos para entender a estratégia de defesa que está sendo usada para manter no poder o grupo político do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP) e comparar com a maneira de agir das quadrilhas especializadas em sequestro. O refém, no caso, é o Brasil, um país que será arrastado para um abismo político e econômico pelo poder que o grupo tem de prorrogar os trâmites de retirada do poder do presidente Temer.

Vamos analisar as semelhanças de agir da quadrilha de sequestradores e do grupo político do Temer. Os sequestradores pegam um refém com o objetivo de ganhar dinheiro na negociação da libertação da vítima. Esse é o negócio deles. E, nas vezes em que são descobertos pela polícia, eles negociam a vida do refém pela fuga dos líderes do bando. É assim que agem as quadrilhas formadas por bandidos profissionais em sequestros. A história desse tipo de bando pode ser encontrada nos inquéritos policiais das delegacias especializadas.

A história do grupo político do Temer pode ser encontrada nas delações premiadas feitas por empresários, como Joesley Batista, um dos donos da JBS, à força-tarefa da Operação Lava Jato. As informações das delações dão conta de que foram pagos milhares de dólares e reais de subornos ao grupo. A imagem que sintetiza o recebimento da propina é o vídeo da Polícia Federal (PF) do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB – PR) correndo em direção a um táxi com uma mala levando R$ 500 mil de propina pagos pela JBS. Rocha Loures é homem de confiança do presidente. Ele cumpre prisão preventiva na carceragem da PF, em Brasília (DF). Esse é o negócio do grupo político do Temer: usar o poder para ganhar ilegalmente dinheiro. Agora, o grupo foi cercado. Na segunda-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma denúncia criminal contra Temer e o ex-deputado Rocha Loures por corrupção passiva. Janot fará novas denúncias.

Chegou a hora de o grupo político de Temer negociar a vida do refém. Aqui chamo a atenção dos meus colegas repórteres, principalmente dos novatos na profissão. Assisti várias vezes os pronunciamentos de Temer sobre a denúncia. E também conversei com amigos que vivem ao redor do núcleo duro do grupo politico do presidente, que é formado pelos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e mais meia dúzia de parlamentares. São homens de larga experiência na arte da sobrevivência política. A conclusão: esses homens não apostam que o conteúdo dos pronunciamentos de Temer sobre a denúncia de Janot irá virar o jogo.

No que estão apostando pode ser encontrado  no que não foi verbalizado no pronunciamento de Temer.  Mas está nas entrelinhas. O grupo tem poder para prorrogar a situação. O que empurraria o país para uma profunda crise política e econômica. O grupo quer trocar a sua sobrevivência pela liberdade do refém, o Brasil.

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