Logo que o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL – RJ), começou a mostrar a sua maneira de como iria administrar o Brasil, houve um aumento do volume de conversas entre os repórteres e suas fontes. Na busca de informações para saber como as coisas iriam funcionar. Na minha área de trabalho, que é conflitos agrários (fazendeiros e sem-terra), disputa por garimpos (índios e garimpeiros), crime organizado de fronteira e migrações, tudo indicava que o confronto entre as organizações que lutam pela reforma agrária, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), seria intenso. Durante as conversas que tive, falei com o professor, pesquisador e sociólogo Ivaldo Gehlen, que foi da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por muitos anos, ele disse o seguinte: “Wagner, o grande enfrentamento do governo vai ser na questão do meio ambiente”. Tempos depois, o professor reafirmou a sua posição em uma entrevista dada ao jornal Valor Econômico.
O andar da carroça mostrou que o professor estava certo. Estão aí as repercussões nacionais e internacionais das queimadas da Floresta Amazônica, onde autoridades e ecologistas ao redor do mundo apontam o dedo em direção a Bolsonaro, que é descrito como uma espécie de Nero Tropical – imperador romano em 54 AC que tocava harpa enquanto Roma queimava. Por que a questão ambiental cresceu tanto, a ponto de acontecer um bate-boca entre Bolsonaro e o presidente francês Emmnuel Macron? Busquei essa resposta conversando com os meus colegas repórteres que viajam ao redor do mundo fazendo coberturas. Eles me lembraram uma coisa: que eu havia vivido nos anos 1980, durante a cobertura dos conflitos agrários, e tinha esquecido. Existem dois temas que são manchetes nos noticiários dos grandes jornais e das redes de TV ao redor do mundo referentes ao Brasil: Selva Amazônica e questão indígena. O resto é canto de página.
Um velho e experiente repórter que escreve sobre política me alertou para o seguinte. Não é por outro motivo que vários presidentes da República escolheram para ministro do Meio Ambiente pessoas com currículo respeitado mundialmente pelos ecologistas. Alguns dos presidentes da República: Fernando Collor de Mello (1990 a 1992) nomeou o agrônomo e ecologista José Lutzenberger, gaúcho falecido em 2002 e um dos pioneiros da defesa do meio ambiente. Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003) colocou José Sarney Filho, um dos fundadores do Partido Verde. Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2011) foi a Marina Silva, ecologista que ficou conhecida no mundo na época em que trabalhou com o seringueiro e sindicalista Chico Mendes, que foi assassinado em 1988, em Xapuri, uma pequena cidade perdida no meio da Floresta Amazônica, no Acre.
Essas pessoas consolidaram a aliança entre o governo e as ONGs espalhadas ao redor do mundo. O resultado dessas alianças foi o surgimento de novos mercados para vários produtos brasileiros, principalmente na área das proteínas animais e vegetais. Bolsonaro assumiu o governo colocando dois superministros da área econômica, Paulo Guedes, e na Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz Sergio Moro. A questão do meio ambiente foi usada por ele para ganhar votos na campanha com a proposta de flexibilizar as leis de proteção ao meio ambiente. Ele cumpriu a promessa, e o resultado foram as queimadas na Floresta Amazônica. E sabe lá mais o que vem por aí. Por uma dessas ironias da história, a primeira vítima da política ambiental do governo será justamente quem o apoiou de maneira muito forte durante a campanha: vários empresários ligados ao agronegócio no interior do Brasil. Se os defensores do meio ambiente ao redor do mundo pressionarem os consumidores dos produtos brasileiros, principalmente de proteína vegetal e animal, vai ser muito complicado para o agronegócio. Bolsonaro semeou vento. Agora vai colher tempestade. É simples assim.
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