A situação pode ser vista a olhos nus, não precisa nenhuma pesquisa científica para comprová-la. Nos noticiários dos jornais, nos sites e nas emissoras e TVs das grandes empresas de comunicação é pequeno o número de fontes entrevistadas que são contra, ou têm alguma restrição, ao projeto do governo federal da Nova Previdência Social. Por quê? Os donos das grandes empresas baixaram nas redações e determinaram que fosse assim? Não. Muito pelo contrário. Vivemos um raro momento na história brasileira em que a grande imprensa faz um jornalismo sério e contundente sobre as ações do governo do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL-SP). Não passa uma semana sem que um “podre” do governo seja jogado nas páginas dos jornais e nos outros noticiários. “Podre” no jargão dos repórteres significa um fato suspeito. O resultado dessa situação é quem se opõem ou têm alguma objeção ao projeto da reforma estão usando as redes sociais para se manifestar.
Vamos esmiuçar o fato para saber o que está acontecendo, um conhecimento que considero importante para quem é novo na carreira de jornalista. Em primeiro lugar, os contrários à reforma se dividem em três grandes grupos. O primeiro são os parlamentares de oposição que, por dever de ofício (razões políticas), têm de ser contra. O segundo são os professores das universidades, principalmente das federais, gente altamente qualificada. E, por último, as empresas especializadas em consultorias, principalmente para fundos de pensão.
A escassez da opinião desse pessoal nos conteúdos do está sendo publicado dá a impressão de que o projeto é perfeito e tem a unanimidade da população. Há outra questão: a maioria dos conteúdos dos comentaristas políticos e econômicos nos noticiários bate na tecla de que o destino do Brasil depende do sucesso do projeto. Isso não é novidade. Tanto que todos os presidentes da República tentaram mexer na previdência.
Antes de prosseguir, quero lembrar o seguinte. Há apenas uma semana descobrimos que os parlamentares não têm acesso às informações do projeto da Nova Previdência. Eu confesso que pelos conteúdos dos comentários e matérias que tenho visto, escutado e lido nos noticiários, imaginava que o projeto tinha sido esmiuçado pelas redações. Se algum colega leu o projeto, ele está soltando as informações a conta-gotas. Pelo visto, todas as informações que estão circulando foram as divulgadas pelo governo federal. Vou seguir contando a história.
Para entendermos a falta de espaço dos opositores à reforma nos grandes jornais temos que olhar para dentro das redações. No final dos anos 90 houve uma mudança muito significativa nas redações brasileiras. Até ali a figura principal era a do repórter. Aconselhados por consultores, os editores começaram a investir em comentaristas. No início, esses comentaristas se abasteciam de informações trazidas por repórteres – que os chamavam de “sanguessugas” e outros nomes pejorativos. Aos poucos, os jornais montaram uma estrutura para o trabalho desses comentaristas formada por repórteres, principalmente jovens.
Hoje a cara da imprensa brasileira são os comentaristas. Porém, com as demissões em massa que vêm acontecendo nos grandes meios de comunicação, esse sistema começou a fazer água, porque os quadros de repórteres que garimpavam as informações foram drasticamente diminuídos. Por outro lado, aumentou a exigência da participação do comentarista em todas as plataformas das empresas – site, blog, TVs, rádios e jornal papel.
Não precisa ser gênio em matemática para saber o resultado dessa equação: as coisas estão acontecendo e as redações estão “chupando bala” – jargão dos antigos repórteres da cobertura de polícia que significa não saber o que está acontecendo. Outro fato: o acesso às informações de bastidores do governo do presidente Jair Bolsonaro são escassas, principalmente para os grandes jornais. Concluindo: a carência de espaço de quem é contra a nova Previdência Social nos conteúdos dos noticiários tem a mesma explicação de boa parte dos acidentes aéreos. Não há um motivo isolado, mas a soma de vários. Um deles são as demissões em massa de repórteres nas redações. É simples assim.