Não foi escrito e muito menos dito. Mas está nas entrelinhas das conversas do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL – RJ), que disputa o cargo com Fernando Haddad (PT – SP). Capitão do Exército da reserva e com forte apoio dos policiais militares do Brasil, Bolsonaro tem falado que fará um governo sem negociar apoios políticos com outros partidos e que não usará os cargos das empresas estatais como moeda de negociação. Nenhum dos partidos tem maioria na Câmara e no Senado. A respeito da estratégia do candidato, os comentaristas políticos dos grandes jornais têm falado e escrito que ele deverá ancorar as suas negociações com as frentes parlamentares, tipo bancada do agronegócio, da Bala e por aí afora. Como se sabe, essas frentes são pluripartidárias e não estão ligadas aos líderes dos partidos. Na teoria, isso é possível. Na prática, é muito difícil acontecer, porque os caciques políticos, tipo o senador Renan Calheiros (MDB – AL), não vão ficar sentados, assistindo o seu poder indo por água abaixo.
Se porventura Bolsonaro insistir na opção de passar por cima dos partidos, é provável que em meio ano o seu governo mergulhe em uma profunda crise política, como foi o caso do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PRN – AL). Eleito em 1990 com uma proposta muito semelhante à do capitão da reserva, Collor renunciou em 1992 para escapar do impeachment. Aqui começam as diferenças entre o governo Collor e a proposta de governabilidade do candidato Bolsonaro. Se houver uma crise política do governo dele e for pedido o impeachment, as Forças Armadas entram em campo e o garantem no cargo? Se não entrarem em campo, os policiais militares entram? Ao longo dos seus 28 anos de carreira parlamentar, ele também construiu uma rede de apoio importantíssima entre os policiais militares, que podem colocar o país de joelhos com uma greve. Durante a greve de 23 dias da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, que se iniciou em dezembro do ano passado e terminou em janeiro de 2018, eu conversei, por três ocasiões, com lideranças do movimento. Ali tomei conhecimento da força de Bolsonaro no movimento.
O que escrevi até agora não é a minha opinião. São fatos que estão presentes na atual conjuntura política do país. Como vimos no casso de Collor e, mais recentemente, em 2016 no governo da então presidente da República Dilma Rousseff (PT – RS), o impeachment é uma ação política dos parlamentares. Portanto, pode acontecer. E tal fato não está sendo levado em conta pelas redações nas suas avaliações do atual quadro político. Conversei com alguns editores de grandes jornais sobre o assunto. A preocupação existe. Mas não há nada que possa indicar que isso irá acontecer, na opinião deles. Eles alinham como argumentos para o seu pensamento dois fatores: um eventual levante das Forças Armadas não teria o apoio popular. E o outro é que a comunidade internacional não aceitaria um golpe de Estado. Ao contrário do que aconteceu em 1964, quando os Estados Unidos apoiaram a derrubada pelos militares, associados com civis, do então presidente da República eleito João Goulart, o Jango, do antigo PTB gaúcho.
Como repórteres, temos que jogar luzes nos cantos escuros dos acontecimentos. E encontrar pistas sobre o futuro nas conversas do presente entre os envolvidos na atual disputa eleitoral. E sobre o candidato Bolsonaro paira a dúvida do que irá acontecer com as Forças Armadas, caso haja uma disputa entre ele os parlamentares. Aqui vou contar uma história. Nas minhas andanças como repórter pelo interior do Brasil, certa vez ouvi de um empresário em Mato Grosso a seguinte frase: “Não se contrata um emprego que não se possa demitir”. Portanto, o papel das Forças Armadas em uma eventual eleição de Bolsonaro precisa ser discutido e esclarecidos antes das eleições. É o nosso dever como repórteres.
Se Bolsonaro for impedido depois de dois anos, assume o general e fica até o fim do mandato. Antes de dois anos, assume o vice mas tem que chamar novas eleições.
Em qualquer uma dos casos vai ter muito barulho.