Não há exagero em afirmar que, no atual momento, interessa mais aos seus aliados, adversários e especuladores do mercado financeiro ver o presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ) sangrar o seu prestígio político do que vê-lo fora do governo por uma ação de impeachment. O último corte profundo em Bolsonaro foi dado pela demissão do seu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ex-juiz da 13ª Vara Federal, em Curitiba (PR), que ganhou fama mundial com a sua atuação na Lava Jato, a operação que colocou na cadeia, por corrupção, parlamentares, empresários e o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). Em 2018, Lula era o principal adversário de Bolsonaro na disputa pela Presidência. A sua prisão abriu caminho para a vitória do presidente e a consolidação da fama de Moro como símbolo contra a corrupção. Fama que o tornou um dos pilares do governo Bolsonaro.
Moro saiu atirando e mostrou provas da tentativa do presidente de usar a Polícia Federal (PF) para espionar os seus adversários políticos. E não é só essa munição que há na mão do ex-juiz, ele tem muito mais. No dia 12 de janeiro fiz o post “Sergio Moro é o J. Edgar Hoover do governo Bolsonaro?” Hoover (1895-1972) foi advogado e policial e o responsável pela modernização do Federal Bureau of Investigation (FBI). Ficou três décadas no poder servindo a oito presidentes e a 18 secretários de Justiça. A sua longevidade no cargo se deu porque ele tinha informações confidenciais de todos. Moro tem ligações com todos os setores da Justiça e da máquina administrativa do governo federal. Portanto, sabe coisas sobre a família Bolsonaro que o próprio presidente desconhece. Podem apostar.
Mas bem antes de Moro começar a atirar contra o presidente já existiam fatos considerados ilícitos que rechearam 24 pedidos de impeachment feitos na Câmara Federal. Por exemplo, no domingo (19/04) Bolsonaro se juntou e discursou para militantes que fizeram uma manifestação em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, pedindo a volta da ditadura militar. Até então nenhum presidente eleito tinha feito tal atentado à Constituição do país. Por muito menos que isso ocorreu o impeachment dos presidentes Fernando Collor de Mello (1993) e Dilma Rousseff (2016). Dilma e o Collor não sangraram como está acontecendo com Bolsonaro. “A quem interessa um governo fraco, doente e sangrando, como o atual?” A pergunta foi feita durante uma conversa que tive com o advogado Luiz Ricardo Sá, um profundo conhecedor das lides políticas.
A resposta à pergunta interessa aos jovens repórteres que precisam cumprir um monte de pautas por dia. Portanto, não têm tempo para avaliar as informações que passam pelas suas mãos. Em primeiro lugar, o governo Bolsonaro sempre foi uma tremenda confusão por se dividir entre vários grupos políticos, sendo os mais importantes: Gabinete do Ódio, onde ficam os três filhos do presidente, Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. Eles montaram uma poderosa máquina de distorcer a verdade que espalha fake news contra aliados e adversários do seu pai. Os Exóticos, que reúnem pessoas que acreditam na conspiração comunista, como o ministro da Educação Abraham Weintraub, que frequentemente atira pedras na China, a maior parceira comercial do agronegócio brasileiro. E os Generais do Bolsonaro, que somam 18 ocupando cargos de primeiro escalão e outros mil e poucos militares de menor patente que estão espalhados pela administração. Eles são os bombeiros do governo. A disputa interna torna o governo fraco e abre espaço para o protagonismo dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e o do Senado, Davi Alcolumbre. Jamais isso aconteceu em outro governo.
Aos aliados políticos interessam os cargos. E aos adversários, o tempo que necessitam para se organizar e montar uma oposição forte. Ao mercado financeiro, a confusão no governo é responsável pela troca de mãos de fortunas na bolsa de valores. Enquanto isso, o povo brasileiro está encurralado em um canto pelo coronavírus, assistindo diariamente pelos noticiários das TVs ao desfile de caixões e sepulturas abertas para as vítimas do vírus. A pergunta que o repórter precisa responder ao seu leitor. Existe interesse de Moro de dar o tiro de misericórdia no governo Bolsonaro, ou ele irá se juntar aos que estão se beneficiando com o sangramento do presidente da República?