Por movimentar verbas publicitárias bilionárias e o interesse de milhares de pessoas, a cobertura da Copa do Mundo na Rússia é o grande teste do novo modelo de redação das grandes empresas de comunicação do Brasil. Ele reúne, em um mesmo espaço físico, um contingente de jornalistas trabalhando para várias publicações (papel, online, rádio e TV) diferentes. Esse modelo é uma evolução do que nasceu nos Estados Unidos, em 2005, quando integrou a redação do jornal papel com a online. No ano seguinte, ele foi implantado em jornais da Inglaterra e, em 2007, chegou ao Brasil. O modelo atual, a integração de veículos diferentes, pertencentes ao mesmo grupo empresarial em uma única redação, deu seus primeiros passos no Brasil em 2010 e, no ano passado, passou a ser uma realidade.
Esse novo modelo de redação irá evoluir, a exemplo do que aconteceu com o de 2005. E o caminho que irá percorrer será definido pelos resultados econômicos da cobertura da Copa da Rússia. Toda essa movimentação, que começou lá em 2005, tem como objetivo diminuir o custo da mão de obra nas redações. E a preservação de veículos de comunicação diferentes, pertencentes a uma mesma empresa, com o objetivo de serem usados como barganha na hora de negociar com os anunciantes. Essa é a realidade do que esta acontecendo hoje. E qual é o nosso interesse como repórteres nessa história? A sobrevivência da nossa profissão. Vejamos. Esse novo modelo de redação é explicado para o assinante como um qualificador das informações que são repassadas para ele. Não é. Uma mesma notícia, mesmo as exclusivas, é repetida nas várias publicações diferentes. Isso acontece porque não houve um aumento da área de cobertura jornalística. Muito pelo contrário. As grandes empresas se afastaram do interior do Brasil e concentraram a cobertura dos seus veículos nas regiões metropolitanas. Isso é fato.
Como o assinante responderá a essa estratégia empresarial, ainda não se sabe. Agora o que nós, repórteres, já soubemos é que o nosso atual modelo de trabalho – ser empregado – está com os dias contados. Primeiro, porque os salários nunca estiveram tão baixos, e a carga de trabalho tão grande, como nos dias atuais. E, depois, porque as grandes empresas diminuíram sensivelmente o investimento em grandes reportagens, que é a razão da nossa existência. A estratégia dos grandes jornais é terceirizar a grande reportagem. Isso significa que, para continuar no ramo, nós vamos ter que nos organizar em pequenas empresas ou em cooperativas. Nas palestras que tenho feito para estudantes e repórteres das redações dos jornais do interior do Brasil, eu tenho alertado para essa nova realidade do nosso setor.
Lembro o seguinte. Sempre que fazemos uma grande reportagem, sobra material. Na maioria das vezes, ele é abandonado em uma caixa. Esse material pode ser transformado em um livro, um documentário ou, simplesmente, em uma pauta para uma próxima reportagem. O dono do jornal escolheu a estratégia de diminuir o seu custo para sobreviver. Nós, repórteres, não podemos nos afastar do nosso foco, que é o interesse do leitor. Aliás, é ele que sempre pagou o nosso salário.