Se o governo do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL- RJ) não conseguir nos próximos seis meses fazer decolar a economia, as eleições municipais de 2020 vão se transformar em um plebiscito para o seu governo. A eleição ocorre daqui a exato um ano, e é a mais importante disputa eleitoral do Brasil. Por quê? Simples, são os prefeitos e vereadores que resolvem os abacaxis diários da população. E também são eles que conseguem a maioria dos votos que elegem os candidatos a governador, deputado (estaduais e federais) e senador.
No início do ano havia entre os políticos dos municípios do interior dos estados do Sul, Centro- Oeste e Oeste a expectativa de que o bom desempenho que o então a candidato Bolsonaro teve durante as eleições presidenciais de 2018 pudesse ajudá-los na campanha de 2020. Bolsonaro elegeu dezenas de parlamentares e inclusive os governadores de dois importantes estados: Wilson Witzel (PSC-RJ), 51 anos, no Rio de Janeiro, e João Doria (PSDB-SP), 61 anos – há matérias na internet.
Se a eleição municipal fosse hoje? O apoio de Bolsonaro significaria votos? Em janeiro, a maioria responderia um grande sim. Hoje, pelas conversas que tive com vários candidatos a vereador e prefeito do interior do Brasil, a grande maioria tem dúvidas sobre o significado de ter o apoio do presidente. Mesmo no Centro-Oeste e Oeste, onde fica o coração do agronegócio, que aderiu em peso à candidatura Bolsonaro.
Aliás, já existe um movimento de afastamento de aliados de Bolsonaro, como é o caso dos governadores Doria e Witzel, justamente os dois que mais se beneficiaram com o apoio do atual presidente durante a campanha de 2018. Witzel, inclusive, sequer se elegeria se não tivesse conseguido colar sua candidatura ao atual presidente da República – tem material na internet. Ao se afastarem de Bolsonaro, os dois governadores estão sendo ingratos? Aqui, quero compartilhar com meus jovens colegas repórteres algo que aprendi em 40 anos fazendo reportagem pelos sertões brasileiros: entre os políticos não existe essa história de gratidão ou ingratidão. Existem interesses: o companheiro de hoje pode ser o adversário de amanhã.
As dúvidas se o apoio de Bolsonaro traz ou não votos têm pouco a ver com as brigas que o presidente comprou com ecologistas ao redor do mundo devido às queimadas na Amazônia e à questão indígena. Nem aos desaforos que postou nas redes sociais a personalidades mundiais como o presidente da França Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte, e a chanceler da Alemanha Angela Merkel. Nem mesmo a crueldade que praticou contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz e a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, hoje alta comissária das Nações Unidas (ONU) para direitos humanos, difamando a memória dos pais de ambos, que foram torturados e mortos pelas ditaduras militares do Brasil e do Chile. Os candidatos estão se afastando de Bolsonaro porque ele não resolveu o problema do desemprego no Brasil.
A respeito da estagnação econômica do governo Bolsonaro, um consultor de grandes produtores de soja do Mato Grosso me contou uma historinha. Disse ele: “Imagina que o governo do Bolsonaro é um avião equipado com duas turbinas na pista para decolar. Uma das turbinas é o ministro da Economia Paulo Guedes, que apostou tudo na aprovação da Nova Previdência Social, um projeto que, se aprovado, trará benefícios no futuro. Ele deixou de lado a questão do desemprego, que é um problema de hoje. A outra turbina é o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ex-juiz federal que ganhou fama mundial com a Operação Lava Jato. Hoje, ele luta para salvar a própria pele defendendo-se das denúncias que estão sendo publicadas pelo site The Intercept Brasil sobre ilegalidades que teriam sido cometidas na sua relação com os procuradores da República”. Nesse ponto da narrativa, o consultor toma um fôlego e conclui o seu pensamento: “Com as duas turbinas pifadas não tem como o avião decolar, por melhor que seja o piloto”.
Em política não existe o vazio de lideranças. Sempre tem gente para ocupar o espaço. Temos que ficarmos atentos para saber quem irá ocupar o espaço do presidente da República dos palanques dos candidatos nas eleições municipais de 2020. Há outro assunto ao qual devemos ficar atentos. Caso persistir o “derretimento político do governo Bolsonaro”, o que farão os militares da ativa e da reserva que ocupam os principais cargos na máquina administrativa federal? Vão colocar o pijama?