É constrangedor para a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, cruel com a família da vítima e um desrespeito com a opinião pública o caso da contadora Sandra Lovis Trentin, que no dia 30 de janeiro de 2018 desapareceu em Palmeira das Missões e foi encontrada quase um ano depois enterrada em uma cova rasa. O corpo foi encontrado por um agricultor no último dia 21 de janeiro, em uma cova rasa na beira da BR-158, próximo à divisa dos municípios de Palmeira e Condor, a uns 35 quilômetros do local onde havia desaparecido. Recolhido ao Instituto Médico-Legal (IML), que é um braço do Instituto-Geral de Perícias (IGP), o corpo da contadora foi identificado pela arcada dentária e por pertences pessoais na cova 24 horas depois de encontrado. Por conta da carência de pessoal e equipamentos do IGP, na próxima semana fecham dois meses que o corpo foi encontrado e identificado e não foi devolvido para a família fazer a cerimônia fúnebre.
O fato de ter sido encontrado e identificado o corpo retirou a família da vítima da galeria dos familiares gaúchos que clamam pelo direito de saber se os seus parentes desaparecidos estão vivos ou mortos. A família da contadora vive em Boa Vista das Missões, pequena cidade agrícola à beira da BR-386, a 30 quilômetros a leste de Palmeira. Como todo município pequeno, os moradores se conhecem. E isso torna o cotidiano da família da contadora complicado. O marido dela, Paulo Ivan Landfeld, foi preso preventivamente e está em liberdade provisória acusado de ser o mandante da morte. Ele teria contratado Ismael Bonetto, 22 anos, para matá-la. Os dois são réus no caso. Bonetto aguarda julgamento preso, e Landfeld, em liberdade, exercendo o seu cargo de vereador pelo PSDB na cidade. O vereador alega inocência e, inclusive, ofereceu uma recompensa de R$ 30 mil para quem ajudar a polícia a esclarecer o caso, em uma matéria publicada no jornal Zero Hora (ZH). A recompensa ofertada pelo vereador foi recebida como uma provocação pelos parentes da vítima.
A situação que descrevi é uma tragédia anunciada. Muitos boatos circulam entre os moradores de Boa Vista das Missões. Aqui chegamos ao xis da história. Muito embora o problema seja enorme para os moradores da cidade. Ele não existe para os grandes jornais do pais. Por ser jornal gaúcho, ZH tem feito o tema de casa e dado uma atenção adequada à situação. Mas não tem sido suficiente para pressionar as autoridades, em especial a Polícia Civil, a avançar no caso depois que foi encontrado o corpo da contadora. Essa lacuna deve ser preenchida pela imprensa regional – principalmente as emissoras de rádio. A cobertura que a mídia regional tem feito do caso da contadora desaparecida tem sido mínima. Na maioria das vezes, repetem fatos noticiados nos jornais da Capital. Aqui chegamos a outro xis da questão. Os donos dos jornais, das emissoras de rádio e de outros meios de comunicação das cidades do interior precisam ter presente que chegou a vez de eles preencherem o espaço vazio deixado no interior do Estado pelas grandes empresas de comunicação. Se não fizerem isso, eles vão fechar e serão substituídos no mercado por outros empreendedores. Aliás, é uma situação que já vem acontecendo em várias cidades.
Para nós, repórteres, o afastamento dos grandes jornais do interior e a vagareza com que as empresas locais ocupam esse espaço nos deixa em uma situação interessante: uma oportunidade de montarmos o nosso próprio negócio. Tenho pregado nas minhas palestras pelas redações do interior do Brasil e nas faculdades de jornalismo que o nosso mercado de trabalho mudou o seu perfil. E o fato de as grandes empresas terem se afastado dos leitores do interior e as locais não terem preenchido esse lugar não significa que o consumidor tenha deixado de necessitar de informações para tocar o dia a dia. Muito pelo contrário. Cada vez mais as tecnológicas eliminam as diferenças do cotidiano do morador do interior com o das capitais. Isso significa que ele precisa de mais informações. O caso da contadora desaparecida em Palmeira é um exemplo da situação que descrevi.
Caso muito mal contado – muito bacana o seu trabalho jornalistico – sou advogado há mais de 30 anos e acompanho o caso à distância . Existem incongruências , fragilidades muito mal explicadas . Duas dessas são o local onde estacionou o veículo antes de desaparecer, absolutamente dissociado de sua agenda pessoal ou profissional e, outro – o desaparecimento do CHIP do celular .
A história toda ainda não foi contado. Tenho conversado muito com os meus colegas repórteres sobre o assunto. O rapaz que é apontado com o matador contratado foi instruído sobre o chip do celular. Pelo que sei do perfil dele, ele não se daria por conta sozinho que da importância do chip.