O encolhimento dos grandes jornais criou uma oportunidade de crescimento para as pequenas empresas de comunicação do interior e para as agências de conteúdo. Tanto os jornalões quanto os do interior foram atingidos pela mesma crise – fuga de assinantes e anunciantes. No interior, o impacto foi menor porque a estrutura das empresas sempre foi mais enxuta. Há muitos anos, o repórter é multimídia: ele escreve, faz vídeo, áudio e fotografa, dirige o carro e, na maioria das vezes, baixa a sua matéria no jornal papel e no site.
Os jornalões se afastaram da cobertura do cotidiano dos moradores do interior do Brasil, fechando vagas nas redações e nas sucursais. Só mantiveram intacta a estratégia comercial de vender assinaturas – sites e papel – no interior. O fato é que a ausência da cobertura cotidiana dos jornalões criou um grande problema para as comunidades do interior, que perderam um importante instrumento de pressão contra as autoridades na reivindicação da solução dos seus problemas, especialmente os ligados às áreas de saúde pública e de infraestrutura – estradas. Antes de seguir o trem, como falam os mineiros, eu devo uma explicação. O que estou escrevendo é com base no profundo conhecimento que tenho do interior do Brasil, onde ando de uma ponta a outra e de um lado para outro há 40 anos como repórter. E das conversas que tenho tido, nos últimos dois anos, durante as palestras que tenho feito pelo interiorzão.
Essa nova realidade esta fazendo com que os moradores do interior batam à porta dos jornais e das emissoras de rádio locais. Há questão de uma década, era mínima a possibilidade de uma autoridade em Brasília ser pressionada por uma notícia em um pequeno jornal ou uma emissora de rádio do interior. As novas tecnologias mudaram essa realidade. Graças à internet, por menores que sejam os jornais e as rádios, o que noticiam dá a volta ao mundo em segundos, alimentando as agências de notícias e as pautas dos jornalões. Para aproveitar essa oportunidade, os jornais e as rádios do interior precisam fazer uma correção de rumo nos seus conteúdos. O perfil dos noticiários locais tem a influência dos anunciantes, o que significa a principal fonte de renda, principalmente a prefeitura e os políticos.
A nova realidade para os jornais e as rádios do interior é o dinheiro escasso dos anunciantes . As prefeituras, mesmo nos municípios ricos, estão com dificuldades, e o comércio varejista, principalmente nas pequenas e médias cidades, está mudando o seu perfil. O comerciante local esta sendo substituído pelas grandes lojas. Resta para a mídia local o seu leitor, que nunca precisou tanto do jornal e da rádio local como nos dias atuais. Seja para explicar para ele as denúncias da Operação Lava Jato, como as mudanças em leis que mexem com o seu cotidiano, como a Reforma da Previdência Social que irá mudar as regras para aposentadoria do agricultor. Jornais e rádios do interior já se deram conta da nova realidade. Mas ainda não sabem como fazer para mexer nos seus conteúdos. Um editor de um desses jornais me falou o seguinte:
– Temos ouvido em palestras com consultores e jornalistas do Rio/São Paulo que precisamos mexer nos nossos conteúdos. Só que eles não falam como fazemos isso.
Eu tenho dito nas minhas palestras que o repórter, o editor e o dono do jornal, ou rádio, sabem as mudanças que precisam ser feitas nos conteúdos. Se tiverem dúvida, e só sair na esquina, que o leitor diz o que precisa ser feito, porco Dio, como falam os moradores de Erechim ou se diz lá em Encruzilhada do Sul:
– Ninguém ensina o padre rezar missa.
Claro, uma conversa da redação com alguém que tenha uma visão geral do que está acontecendo nos meios de comunicação, ao redor do mundo, é sempre recomendada. E tenho dito aos repórteres que as mudanças no nosso setor criaram uma necessidade de se ter na redação pessoas que sejam referência para os leitores em conhecimento de assuntos que necessitam saber para tocar suas vidas, como aposentadoria rural. Tenho dito que as agências de conteúdo, que são um importante ramo de empregos no nosso setor, tem uma boa oportunidade de crescerem, fornecendo matéria para jornais e rádios do interior. Como se diz:
– O cavalo encilhado está passando.