Por conta do que está por vir na Operação Lava Jato os deputados federais e os senadores nunca trabalharam tanto em um recesso parlamentar como estão trabalhando no atual. Na prática, apenas trocaram os ternos pela bermuda e o chinelo de dedo. Eles seguem agarrados aos seus telefones celulares e cobrando de seus assessores mais e mais informações a respeito do que está rolando na Lava Jato.
A preocupação não é exagerada. Eles vivem uma situação inédita na vida política do Brasil por conta do que está por vir com a homologação das delegações premiadas dos executivos da Odebrecht, que vai jogar merda no ventilador, como se diz no jargão dos repórteres. E ainda cresce diariamente a possibilidade de ocorrer a delação premiada do ex-deputado deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que cumpre prisão preventiva na Lava Jato.
Seja qual for o rumo que as coisas irão tomar durante o ano, quem tem mais a perder é o PMDB, que apostou alto na situação. Com Michel Temer, o partido ocupou a vice-presidência da República no governo de Dilma Rousseff (PT RS). Conspirou contra Dilma e agora Temer é o presidente do país. Para o partido conseguir continuar navegando na imensidão do mar agitado precisa manter aliados de confiança nas presidências do Senado e da Câmara Federal, que terão eleições no final de janeiro e começo de fevereiro.
O quadro na Câmara ainda é indefinido. O cargo atualmente é ocupado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), em um mandado tampão de seis meses. Maia teve um papel importante na substituição de Dilma por Temer. A eleição para o Senado já tem definições. O atual presidente, o senador Renan Calheiros (PMDB AL), está fora do páreo, desgastado por responder a vários processos na Justiça Federal, sendo que é réu em um deles, o que o impede de assumir a Presidência da República em um eventual impedimento de Temer e Maia.
Dentro de uma situação normal, por ter maior bancada, 18 dos 81 senadores, o PMDB elegeria o substituto de Calheiros. Acontece que na bancada apenas três senadores não enfrentam problemas com a Justiça ou com a Polícia Federal (PF). Entre eles está Kátia Abreu (TO), ex-ministra da Agricultura de Dilma, amiga pessoal da ex-presidente e uma mulher que ganhou o respeito do PT por ter ficando ao lado de Dilma até o fim. Kátia é faca na bota, não leva desaforo para casa. A candidatura dela não é preferida de Temer, ou da maioria dos seus colegas de bancada. Mas é olhada com simpatia pela ala esquerda do seu partido e do PT, a segunda maior bancada no Senado. Este é o quadro da primeira semana de 2017. O que virá pela frente nenhum senador pode saber. Se soubesse, já teria entrando em férias.
A atual situação para os jovens repórteres é uma oportunidade de mostrar trabalho.