Falando um bom português, a Petrobras dolarizou o preço dos combustíveis, ao fazer a ligação, em tempo real, da composição dos seus custos às oscilações do mercado internacional de petróleo, um dos mais voláteis do mundo, e usa o dólar como moeda. Já os consumidores brasileiros, os trabalhadores e os empregadores ganham em moeda nacional, o real, que é mantido desvalorizado em relação ao dólar para beneficiar as exportações. Essa é a equação que nós, repórteres, temos que explicar de maneira simples e direta ao nosso leitor.
Vamos raspar as palavras técnicas ditas pelos dirigentes da empresa estatal para justificar a oscilação, até diária, nos preços dos combustíveis. E vamos falar em fatos. A empresa está enfrentando um processo doloroso de recuperação do seu patrimônio, que foi furtado por quadrilhas de bandidos travestidos de executivos e parlamentares, como foi apurado pela força-tarefa da Operação Lava Jato – há um imenso material disponível na internet. Agora isso não dá o direito à Petrobras de saquear o bolso do consumidor. Como repórter, eu circulo muito pelo país, principalmente nas regiões grandes produtoras de soja e de conflitos de fronteira, e não lembro de ter visto o preço do combustível ter baixado na bomba quando a estatal anuncia uma baixa nos preços. Com isso, vivemos a esdrúxula situação de termos uma inflação baixa e o preço dos combustíveis lá nas nuvens. Faço reportagem investigativa há 40 anos e creio ser essa a primeira vez em que estou vendo o preço da gasolina subir na bomba e a inflação baixar. Pode?
Em outros tempos, qualquer aumento no preço dos combustíveis era manchete nos noticiários e conteúdo nas redes sociais. Hoje, a conjuntura nacional – enormes escândalos envolvendo até o presidente da República – ocupam os grandes espaços na mídia. Nessa conjuntura, a Petrobras é uma vítima. E o seu atual presidente, Pedro Parente, 64 anos, uma espécie de salvador da pátria. Nós, repórteres, não estamos dando a devida atenção às consequências das ações tomadas pela direção para recuperar a empresa. Pelo quadro atual, é o consumidor que está pagando a conta. Lembro o seguinte: nosso leitor não é alienado e vê a abundância de anúncios da estatal nos jornais, nas revistas e nos sites dos grandes grupos de comunicação. Como repórter, eu sei que uma coisa não tem a ver com a outra. Mas, então, por qual razão não estamos questionando a política de recuperação do patrimônio da Petrobras? Não tem gente disponível para dar atenção a isso porque as redações foram esvaziadas pelas demissões, e os repórteres que restaram estão com uma enorme carga de trabalho e um dos salários mais baixos da história. Essa é a realidade que deve ser cobrada pelo leitor na hora de renovar a sua assinatura.
Para fechar a história, eu gostaria de refletir com os meus colegas repórteres calejados e os novatos. Se deixarmos toda a conversa técnica sobre a politica de ajuste de preços da Petrobras de lado e nos concentrarmos nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha exibidos nas placas na frente dos postos de vendas, salta aos nossos olhos uma realidade. A direção da Petrobras esta recuperando a empresa saqueando o bolso do consumidor.