Se for descoberta uma pista de que o desaparecimento, em 2015, de Cláudia Pinho Hartleben tem a ver com o exercício do seu cargo de professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o caso irá para a Polícia Federal (PF). Até agora, a investigação é feita pela Polícia Civil e o Ministério Público Estadual (MP-RS). Dois suspeitos foram denunciados como autores do desaparecimento. A denúncia não foi aceita pela Justiça Estadual, e o caso prossegue sem solução. Dois anos e sete meses depois, o desaparecimento segue sendo um assunto permanente nas conversas dos 350 mil moradores da cidade, principalmente da comunidade universitária.
Antes de seguir conversando o sobre o caso. Vejo na insistência de nós, repórteres, em não deixar o caso parado não só uma obrigação de ofício. Mas uma grande oportunidade de fornecer aos nossos leitores as informações corretas sobre o que aconteceu. Para os jovens repórteres, é uma oportunidade de um lugar ao sol. Vamos ao caso. Na noite de 9 de abril de 2015, Cláudia, uma mulher bonita de 47 anos, foi jantar na casa de uma amiga. Depois do jantar, teria ido para casa, onde foi encontrado o seu carro, e nunca mais foi vista. Esse tipo de investigação é um pesadelo para qualquer policial, porque são muitas as hipóteses do que possa ter acontecido. E, sempre que esse tipo de apuração começa com uma pista concreta, se ela não se confirmar, o caso vai por água abaixo.
A Polícia Civil e o Ministério Público fizeram uma parceria para investigar o caso. E a apuração começou admitindo todas as hipóteses, como é de praxe. Mas, logo nos primeiros dias, uma linha de investigação começou a se consolidar, que foi o de crime passional. O ex-marido da professora teria afirmado que um dia iria matá-la e ninguém encontraria o corpo. Ao longo da apuração, vários depoimentos foram consolidando a tese de crime passional. No final, o ex-marido e um filho do casal foram denunciados como autores do desaparecimento. Sem o corpo da professora, o caso não se sustentou, e a Justiça não aceitou a denúncia. Já vi isso acontecer antes. Como repórter em um caso que trabalhei em 2005, em Porto Alegre. A comerciante Sirlene Moraes, 42 anos, e o seu filho Gabriel, sete anos, foram se encontrar com um médico homeopata que teve um caso extraconjugal com ela e seria o pai do menino. Mãe e filho nunca mais foram vistos. O médico chegou a ser preso. Mas a sua prisão foi revogada, e o caso, encerrado por falta de provas, já que os corpos nunca foram encontrados.
Diferença dos casos
Existem duas diferenças entre os casos de Sirlene e Cláudia que podem ajudar na investigação. A primeira é que o caso da comerciante acontece em 2005, e o da professora, em 2015, uma década de diferença em que a tecnologia de vigilância não só se modernizou como se ampliou, devido ao barateamento do uso da internet. Em 2015, existem câmeras de vigilância por todos os cantos, principalmente em cidades como Pelotas. Aqui tem uma observação. Uma imagem de câmera não precisa colocar o suspeito na cena do crime para ser valiosa. Ela também pode mostrar ao investigador onde o seu alvo estava na hora em que crime foi cometido, o que ajuda um monte na apuração. Mais ainda: em 2005, os telefones celulares no Brasil eram rastreados pela polícia, identificando a torre de telefonia que usava na hora da ligação. Hoje, os celulares têm GPS (em inglês, global positioning system), que é muito mais preciso na localização do aparelho. A maioria dos veículos também tem GPS. Portanto, em 2015 é muito mais difícil uma pessoa desaparecer sem deixar vestígios do que em 2005.
A outra grande diferença entre os casos da comerciante e da professora é o ambiente onde as duas viviam. Sirlene e sua família viviam do comércio de roupas, tinham uma loja em shopping center popular de Porto Alegre. Ela comunicou ao seu marido que ele não era pai de Gabriel dias antes de desaparecer. E o álibi do marido convenceu a polícia de que ele não tinha nada a ver com o desaparecimento. Cláudia era professora do curso de Biotecnologia da universidade e, além do conflito com o ex-marido, ela também convivia em um ambiente de muitas histórias não explicadas na UFPel. Aconteceram dois grandes escândalos na reitoria da universidade: em 2013, com a compra e o arrendamento de imóveis, consideradas práticas ilegais pelo Tribunal de Contas da União (TCU); e em 2015, com a concessão de bolsas de estudos para quem não tinha direito. Esses dois escândalos, somados às disputas políticas entre os professores, foram responsáveis por um profundo racha na comunidade universitária da UFPel.
Conflitos
Acompanhei a cobertura dos meus colegas nos dois escândalos e me envolvi em algumas das apurações. E a professora Cláudia não estava envolvida em nenhum deles. Mas ela e seus colegas conviviam dentro de uma comunidade extremamente dividida e abalada por tudo que acontecia. Saber se esse ambiente hostil teve alguma coisa a ver com o desaparecimento da professora é um trabalho para a PF. Enquanto o caso não for esclarecido, todas as linhas de investigação são válidas. O cotidiano das pessoas no mundo de hoje é cercado por um aparato tecnológico onde ninguém some sem deixar “rastros virtuais”. Seja lá o que tenha acontecido com a professora Cláudia, em algum lugar existe uma pista que conduzirá o investigador à solução do caso. Um bom caminho para chegar lá é recomeçar essa investigação da estaca zero.
Bom ler teus textos
O foco do meu blog é ensinar aos novatos na reportagem o caminho das pedras. Tenho 67 anos, 40 como repórter investigativo, e acredito que usando o meu conhecimento para ajudar os novatos estou retribuindo a tudo que profissão meu deu. Não deixar cair no esquecimento casos como o da professora é um dos esteios da profissão. Obrigado
Sim. A Polícia Federal já deveria ter entrado na investigação. Porque a incompetência do Estado do Rio grande do Sul, deixou paralizar o caso, prevaleceu a amizade e o interesse dos agentes públicos em não fazer a investigação adequada e necessária para apurar o crime, que não pode ficar esquecido. Sou mãe de uma aluna da UFPEL.
Como repórter, nós não devemos esquecer o caso. O meu celular particular; 51.999.69.07.46
Existem muitos boatos dentro da Ufpel sobre o caso Claudia, acho um absurdo pararem a investigação.
Mirta, eu sou um velho repórter estradeiro. Tenho 69 anos, 40 e poucos de profissão e fiquei uns 30 e tantos como repórter investigativo na ZH. O perfil do caso da professora Cláudia não é difícil de solucionar. Mas tem que ter persistência e pressão da comunidade. Te agradeço a leitura. Qualquer coisa, avisa.
Obrigado…a Claudinha merece justiça e eu creio que ela ainda virá, um dia virá com certeza!
Pode me ajudar?