A viagem do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP) à Europa causa um enorme estrago à imagem no exterior da democracia brasileira. Uma imagem que foi construída nas últimas três décadas a um custo altíssimo, em que estão contabilizadas a luta contra o Regime Militar (1964 a 1985), a superação da hiperinflação, as lutas populares e a consolidação da liberdade de imprensa.
Como explicar aos europeus a defesa que Temer fará na Rússia da qualidade do setor de carnes do Brasil, que foi abalada pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal (PF)? Se o principal empresário do setor, Joesley Batista, um dos donos da JBS, em delação premiada à Operação Lava Jato, denunciou Temer e o seu grupo político por corrupção? Já correu o mundo o vídeo feito pela PF do ex-deputado federal (PMDB – PR) Rodrigo Rocha Loures, assessor do presidente, puxando uma mala com R$ 500 mil de propina. E o áudio gravado pelo empresário de uma conversa com Temer tratando de negócios ilegais. Na Noruega, Temer irá falar com os investigadores do setor de petróleo. Como explicar para o investidor que ele está falando com a autoridade máxima do Brasil que está envolvida no escândalo da Petrobras, uma das maiores petrolíferas do mundo?
Imagine o constrangimento de uma autoridade europeia, sabendo que terá que apertar a mão do Temer, e a foto irá circular o mundo. Aqui, eu gostaria de refletir com os meus colegas repórteres, principalmente os novatos na profissão. O grupo político de Temer já demonstrou ser um dos mais eficientes da história recente do Brasil. Vejamos: foi bem sucedido na conspiração que resultou no impeachment da presidente da República Dilma Rousseff (PT – RS), que foi substituída pelo seu vice, Temer. Também soube manobrar a conjuntura política e ser inocentado da acusação de caixa dois na chapa Dilma/Temer, na reeleição de 2014, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A condenação resultaria na perda do cargo pelo Temer.
O que significa esse currículo do grupo político do Temer? A existência da real possibilidade de arrastar até o final do mandato (2018) a permanência do presidente no cargo. Qual seria o resultado disso? Uma grande chance da presença de dinheiro sujo nas eleições de 2018, porque o grupo político de Temer é formado por pessoas que têm contas a ajustar com a Operação Lava Jato. E ser governo, para eles, significa foro privilegiado – tem direito a serem julgados pelo Superior Tribunal Federal (STF), que é mais lento nas suas decisões do que a Justiça Federal de primeiro grau. Uma avaliação das façanhas do grupo político de Temer mostra que os seus interesses vêm em primeiro lugar. A bandeira que usa para justificar a sua permanência no poder, que é das reformas – Sistema de Previdência Social, Leis Trabalhistas e Políticas –, necessárias para colocar a economia nos trilhos, é a maneira de mascarar o verdadeiro objetivo do grupo: sobreviver a qualquer custo.