Até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atolado até o pescoço com a emergência sanitária causada pelo coronavírus e encurralado dentro da Casa Branca pelas gigantescas manifestações populares contra a morte do desempregado negro George Floyd por um policial branco (25/05), está atirando pedras na maneira como o governo federal do Brasil lida com o ataque do vírus. Ele não é o único. Dirigentes europeus e de países vizinhos (Argentina, Uruguai e Paraguai) têm feito a mesma crítica. Resumindo a questão: no atual momento o número de mortes era para estar diminuindo no país, e está aumentando. Hoje(08/06), foram contabilizados 36.505 óbitos e 692.363 contaminados. Ao redor do mundo (07/06), o coronavírus matou 397.388 pessoas e infectou 6.799.713 – há vasto material disponível na internet. Hoje (07/06) o Brasil está em terceiro lugar no mundo no número de mortos pelos vírus. Quem é o responsável?
Muito bem, vamos aos fatos. Um dia a pandemia vai terminar. Não é preciso ser gênio em estratégia política para concluir que a disputa eleitoral vai usar a atuação do governante durante a emergência sanitária como munição. Não é por outro motivo que Trump está atirando pedras no Brasil. Ele vai tentar a reeleição no final do ano. Isso faz parte do jogo nos países democráticos. Como também faz parte desse jogo as organizações de direitos humanos entrarem com processos nos tribunais internacionais acusado de genocidas dirigentes de países que viraram as costas para o problema. No Brasil, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido RJ) escolheu misturar disputa política com emergência sanitária. No dia 26 de março, eu fiz o post “Bolsonaro foi à guerra contra o coronavírus pelas manchetes dos jornais”. Portanto, o que está por vir não será surpresa. Ao que nós repórteres temos que ficar atentos é com as cascas de banana que serão espalhadas no caminho pelo Gabinete do Ódio, o grupo de pessoas que fazem parte do círculo íntimo do presidente e que operam uma máquina de distorcer a verdade e disparar fake news.
No início da guerra contra o vírus, as autoridades sanitárias federais brasileiras fizeram a coisa certa, seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por não existirem vacinas nem remédios específicos contra a doença, a OMS recomendava que se adotasse o isolamento social, o fique em casa, como estratégia para atrasar o avanço do vírus e com isso dar tempo para a montagem de uma estrutura hospitalar. Na época, em março, o médico Luiz Henrique Mandetta, 56 anos, era o ministro da Saúde. A maneira como Mandetta conduzia o combate ao vírus seguindo as orientações da OMS o tornaram mais popular no país do que Bolsonaro – há matérias na internet. O presidente foi à luta atacando o isolamento social e fritou o ministro em óleo fervente durante mais um mês. Até demiti-lo em abril. O que irão questionar. Se o ministro Mandetta fosse mantido no cargo, qual seria o número de mortes e infectados hoje (07/06) no Brasil? No lugar do ex-ministro assumiu o oncologista Nelson Teich, 62 anos, que ficou, em números redondos, um mês no cargo. Pediu demissão porque Bolsonaro queria enfiar-lhe garganta abaixo o uso da cloroquina como remédio contra o vírus – vários estudos afirmam que o remédio é ineficiente. Outra pergunta: por que a insistência do presidente com a cloroquina e o que resultou dessa situação? O Brasil comprou uma quantidade enorme de matéria-prima para produzir a droga – tem matéria na internet.
No lugar do Teich assumiu o general Eduardo Pazuello, que até agora (07/06) tem concordado com as orientações do Bolsonaro sobre o coronavírus, inclusive o uso da cloroquina. Aqui é o seguinte. O Brasil chegou às manchetes dos noticiários ao redor do mundo com os enterros em covas coletivas em Manaus (AM) e com o colapso do sistema de saúde do Rio de Janeiro, onde pessoas estão morrendo nos corredores dos hospitais por falta de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). O Rio é o cartão-postal do Brasil. O que tem a ver o boicote de Bolsonaro aos governadores na política do isolamento social com essas duas situações? Tudo o que escrevi não é opinião. São fatos que publicamos. Mais um fato. O presidente mandou atrasar o horário de divulgação dos números de mortos, infectados e curados. O objetivo é evitar que o número seja a manchete principal do Jornal Nacional (JN), da Rede Globo. Até agora o tiro saiu pela culatra. A Globo passou a fazer um boletim no meio do horário da novela, que tem muito mais audiência do que o JN. Pergunta: quem irá investir em um país que dificulta o acesso às informações oficiais de uma crise sanitária. Meus colegas repórteres, para todos os lados que se olhar se encontram as digitais de Bolsonaro na crise sanitária, inclusive nos caixões dos mortos. O general Pazuello é cúmplice do presidente. É simples assim.