Imagine, nos dias de hoje, um dinossauro andando pela Avenida Paulista, o centro econômico do Brasil. Inimaginável, né? Agora, imagine como é possível o grupo político do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), formado por pessoas com problemas com a lei se manter no poder no Brasil de hoje? Um país mobilizado contra a corrupção e pela transparência do cotidiano dos seus dirigentes. Onde a liberdade de imprensa é uma realidade, milhares de pessoas estão interligadas pelas redes sociais, e as instituições estão consolidadas e funcionando a todo o vapor.
Dentro dessa realidade, a única maneira de o grupo politico do Temer manter o poder é o Brasil recuar no tempo. Nos tempos atuais, o comprometimento com atividades fora da lei do grupo o tornou vulnerável – os nomes e os envolvimentos das pessoas que fazem parte do bloco do presidente estão disponíveis em vários sites e em matérias na internet. Dentro dessa realidade é que devemos explicar ao nosso leitor que as delações premiadas para a Lava Jato do empresário Joesley Batista (um dos donos do JBS), que encurralaram o presidente Temer, não são as únicas, e talvez nem as mais comprometedoras. Tem muito mais. Hoje, por exemplo, entre os presos da Operação Panatenaico, da Polícia Federal (PF), que investiga o superfaturamento de R$ 900 milhões da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, está Tadeu Fillippeli, assessor especial da Presidência da República e ex-vice-governador do Distrito Federal. A denúncia do superfaturamento saiu da delação premiada da Odebrecht, da Operação Lava Jato. Tem mais uma bomba ainda, aliás duas: uma é a intenção do ex-deputado Eduardo Cunha de fazer delação premiada. Cunha tem contas para ajustar com Temer. Na época em que era presidente da Câmara dos Deputados, ele foi peça-chave na conspiração do grupo político de Temer que resultou no impeachment da então presidente da República, Dilma Rousseff (PT – RS). Temer era o vice de Dilma e assumiu o seu lugar. Cunha acabou sendo cassado e condenado pelo juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, e cumpre pena na Região Metropolitana de Curitiba (PR).
Outra delação que está sendo negociada é de Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo Lula e ex-ministro-chefe da Casa Civil de Dilma. Palocci sabe segredos da conturbada relação entre PT e Cunha, que, na época, era deputado federal do PMDB do Rio de Janeiro.
Aqui gostaria de refletir com os meus colegas repórteres, principalmente os novatos, sobre as estratégias que o grupo político está usando para se manter no poder. Temer tentou descolar da Lava Jato vendendo a ideia para o país da necessidade de fazer a economia voltar aos trilhos com reformas nas leis trabalhistas e na Previdência Social. Ele quase conseguiu se descolar, graças a uma reação da economia e uma campanha publicitária maciça sobre seu governo. Mas foi puxado de volta para a Lava Jato pela delação do empresário Joesley Batista. Agora, ele tenta permanecer no poder, alegando que todo o esforço feito para colocar a economia nos trilhos irá pelo ralo, caso não o deixem em paz. Um apelo forte atualmente no Brasil, onde existem 14 milhões de desempregados – a soma da população do Uruguai e da Bolívia. Aqui temos que lembrar ao nosso leitor que Temer é também um dos responsáveis pelo descarrilamento da economia, ele era vice de Dilma. Investigações da força-tarefa da Lava Jato mostram que parlamentares do grupo político do presidente usaram seus cargos para beneficiar vários grupos econômicos, em prejuízo à economia do país. Todos sabem que o país precisa das reformas. Mas qual a legitimidade que têm as propostas por Temer?