A condenação do Lula a nove anos e seis meses de cadeia pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, contribuiu para a vitória do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal. Como isso aconteceu? É uma oportunidade que temos, principalmente os jovens repórteres, de explicar aos nossos leitores o inédito cenário político brasileiro, onde a volatilidade dos fatos é uma das mais intensas da história do Brasil.
A intensidade dos acontecimentos colocou a segunda semana de julho na história da mídia brasileira. Ela começou com a leitura, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal, do relatório de Sergio Zveiter (PMDB – RJ) sobre a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Temer – acusado ter recebido propina na delação premiada à Lava Jato do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS. Zveiter foi favorável à aceitação da denúncia do MPF, o que significava que, caso fosse aceita pelo plenário da Câmara, Temer seria afastado por 180 dias do cargo. O relatório da CCJ não é decisivo, pode ser aceito ou recusado pelo plenário. Mas ele influencia o voto dos deputados e, principalmente, cria uma imagem na opinião pública.
Nos primeiros debates na CCJ, a tropa de choque de Temer mostrou que estava organizada, bem informada e pronta para a luta. Para garantir a sua vitória, foram distribuídas emendas parlamentares – dinheiro para os deputados investirem em suas bases eleitorais –, e vários parlamentares que iriam votar contra foram substituídos. Mas havia um aspecto na luta pela rejeição do parecer de Zveiter que o grupo politico de Temer não tinha controle: o trânsito das informações – noticiários e redes sociais – que bombardeavam a opinião pública com notícias e imagens, como o vídeo feito pela Polícia Federal (PF) do assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado (PMDB/PR), correndo pelas ruas de São Paulo com R$ 500 mil de propina (paga pela JBS) em uma mala.
Dentro desse contexto, o deputado que votasse contra o relatório de Zveiter, teoricamente, teria que explicar para suas bases a história da mala de dinheiro. Um dia antes da segunda reunião da CCJ, aconteceu a condenação do Lula – por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do apartamento triplex em Guarujá, no litoral de São Paulo. Ele pode recorrer da sentença em liberdade. A divulgação da sentença de Moro era esperada para esse mês, e a condenação de Lula era dada como certa, inclusive por ele mesmo. Mas estamos falando de Lula, um homem que tem uma história política que o tornou conhecido ao redor do mundo – todas as informações podem ser encontradas na internet. Portanto, a notícia da sua condenação circulou o mundo e, no Brasil, ocupou todos os espaços nobres dos noticiários e das redes sociais. Resumindo: os holofotes focaram na condenação de Lula e deixaram de lado o caso do Temer na CCJ.
A ausência dos holofotes foi usada pelo grupo político de Temer para fazer duas correções de rumo na sua estratégia; apressar a votação do relatório de Zveiter na CCJ e empurrar para agosto a votação em plenário. Aqui, cabe um comentário. Pelas contas da tropa de choque do presidente, o relatório seria derrotado na CCJ. Mas a repercussão negativa na opinião pública colocaria em risco a votação no plenário. Hoje, a derrota do relatório divide espaço nos noticiários e nas redes sociais com a condenação de Lula. Ao empurrar a votação em plenário para agosto, o grupo político de Temer aposta na chance da volatilidade da conjuntura política trazer para os holofotes algum fato que os beneficie, como a consolidação da imagem, perante a opinião pública, de que, apesar de tudo, o governo continua funcionando. Temer cita como exemplo a aprovação da reforma das Leis Trabalhistas.
O que é certo é que, nas próximas semanas, o grupo político de Lula deverá intensificar a campanha rumo à disputa da presidência da República em 2018. E, do lado de Temer, o seu grupo político segue na batalha para salvar o seu mandato. O resto fica por conta da tal volatilidade da conjuntura política. O certo é que nenhum repórter vai morrer de tédio, e não faltarão chances para os novatos se firmarem na profissão.
Taí uma época em que morar em Brasília e ser repórter é certeza de não dormir mais do que três horas por noite, meu caro Wagner…
É verdade, grande Gava.