Bem acima do que as leis brasileiras dizem sobre o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL – RJ), indicar o seu filho para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, paira a luta de anos e anos dos brasileiros de mostrar para o mundo que vivem em um país civilizado, organizado e sério. Tipo do lugar onde os laços familiares não são usados pela autoridade maior, o presidente da República, como qualificação profissional. Como é o caso do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL – RJ), que foi indicado pelo pai para ocupar a embaixada mais importante do país, a americana. Essa é a síntese de conversas que ando tendo com empresários, jovens estudantes, profissionais liberais e agricultores ligados ao agronegócio. Tive dois cuidados na escolha dos entrevistados: que não fossem militantes políticos e de incluir na conversa eleitores do Bolsonaro.
Por que fiz isso? Por acreditar que precisamos explicar melhor o assunto ao nosso leitor. Lembro que, em 1989, o então candidato a presidente da República Fernando Collor de Mello (PRN – AL) bateu muito na tecla do que o seu governo seria para os descamisados – um termo que surgiu na Argentina, que significa pobres. Semanas depois de Collor assumir a presidência, eu saí pela cidade (Porto Alegre, RS), entrevistado os descamisados para saber a sua opinião sobre o novo presidente. Collor renunciou ao cargo em 1992, na tentativa de escapar do impeachment. A matéria que fiz com os descamisados foi diferente das que normalmente ocupam os espaços no jornal. E acabou chamando a atenção do leitor. Na questão da nomeação de Bolsonaro do seu filho como embaixador nos Estados Unidos, o foco das reportagens tem sido se é ou não nepotismo.
Estou dizendo que seja acrescentado mais um ângulo para tratar dessa questão: “os olhos do mundo” – o que os países do Primeiro Mundo vão pensar sobre o assunto. Aprendi a dar valor para esse julgamento durante a minha vida de repórter. Por ter focado a minha carreira na cobertura de conflitos agrários – fazendeiros e sem-terra –, disputas de garimpeiros com índios por jazidas de ouro e diamantes e crime organizado nas fronteiras, eu sempre viajei muito pelos confins do Brasil. Esse tipo de conflito atrai a imprensa mundial e, por conta disso, convivi muito com repórteres estrangeiros. E, no papo com os colegas no boteco, depois que todo mundo mandou as matérias para as redações, rola a conversa sobre a seriedade dos governos. Durante essas conversas, seguidamente se ouvia a expressão “República das bananas” – é um termo pejorativo, e existe um vasto material disponível na internet.
Ao nomear o seu filho, o presidente Bolsonaro tornou o Brasil uma República das bananas? Claro que não. Mas ressuscitou a ideia. Mas o presidente dos Estados Unidos nomeou parentes para o seu governo. Bem, isso é problema dos americanos. Aqui, eu quero chamar a atenção dos meus colegas jovens das redações. Os Estados Unidos já foi um país chamado de muita coisa. Menos de “República das bananas”. Esse nome é reservado para os países sul-americanos. Nos últimos 50 anos, foram investidos bilhões na imagem do Brasil perante o mundo para se afastar da ideia de ser o lugar do “jeitinho brasileiro”, que é muito semelhante a “República das bananas”. Nas últimas três décadas, os brasileiros equacionaram a questão da inflação – nas décadas de 80 e 90, vivemos a hiperinflação –, foram aprovadas leis que facilitaram o combate à corrupção e o controle das instituições financeiras. Nas conversas que tive com os entrevistados, encontrei uma preocupação comum: “o que vão pensar de nós lá fora”. É uma maneira bem simplificada de ver a questão. Mas é simples assim.