Até a denúncia apontando o ex-presidente Lula como o grande chefe de todos os desvios de verbas, a força-tarefa fazia uma investigação segura, sem deixar portas abertas para os suspeitos. Como se fala no jargão das redações: estava comendo a polenta quente pelas beiradas. Divulgava um elo da corrente por vez. Na acusação de agora, os investigadores preencheram pontos da apuração com generalizações. Frente a esse procedimento, o jovem repórter deve ficar com um pé atrás. Temos exemplos na história, como o episódio da Escola de Base, de São Paulo: em março de 1994, a imprensa publicou que seis pessoas estariam envolvidas em abuso sexual contra alunos. Proprietários e funcionários da escola foram hostilizados, perderam seus bens e, no final, constatou-se que tudo não passara de um grande equívoco de parte da investigação policial. Outro caso traumático: em 1994, o então forte candidato à Presidência da República, ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, foi cassado devido a uma reportagem que transformara US$ 1 mil em US$ 1 milhão. O erro jornalístico só veio à tona em 2004. Os dois exemplos resultaram em processos judiciais, ganhos pelos prejudicados. Um jornalista sentenciado não paga a indenização, a qual recai sobre a empresa onde trabalha. No entanto, como ficam sua reputação e seu nome profissional? O reporteiro calejado sabe que a investigação é uma caminhada longa, cheia de detalhes e de muitas armadilhas. Vejamos a situação do ex-presidente Lula: mesmo que o juiz aceite a denúncia, que ele se transforme em réu e seja punido em todas as instâncias da Justiça, não há como prever se a condenação virá para todos os crimes listados na denúncia. Convém lembrar: denúncias do Ministério Público e relatórios de inquéritos da Polícia são peças que se montam tendo como ponto de partida indícios do que teria de fato acontecido. E o indício geralmente vem do depoimento de uma testemunha, o qual é descrito, por certos advogados, como a prostituta das provas – uma referência politicamente incorreta à mais antiga profissão. É do nosso ofício sermos arrojados e exatos no que publicamos. A desconfiança é nossa maior arma. Devemos evitar as cascas de banana sorrateiramente espalhadas ao longo de uma reportagem. Elas podem abreviar carreiras.