O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (democrata), tem sido muito cuidadoso com as palavras ditas a respeito da guerra entre Israel e o Hamas. Especialmente nas conversas públicas com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, 73 anos, um homem polêmico, que responde a dois processos na Justiça e vem tentando mudar a legislação para se safar das acusações. Na tentativa de mudar a lei, o primeiro-ministro fragilizou a segurança do país, o que facilitou a invasão dos terroristas do Hamas ao território israelense no último dia 7 de outubro, quando executaram mais de 1,3 mil pessoas e sequestraram 220. Netanyahu está empenhado em cumprir a promessa de destruir o Hamas, que comanda a Faixa de Gaza, um confuso aglomerado urbano onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, das quais mais de 5 mil já foram mortas ou feridas pelos disparos da artilharia e da força aérea de Israel. Dependendo da evolução dessa situação, ela se tornará uma pauta em 2024 nos debates entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos.
A prudência de Biden se deve ao fato de que ele concorre à reeleição. Sabe o poder que as redes sociais têm nas eleições. Em 2018, quando concorreu contra o então presidente Donald Trump (republicano), Biden foi esmagado pela máquina publicitária das redes sociais do ex-presidente. Nos dias atuais, até eclodir a guerra Israel versus Hamas, o foco dos adversários e dos jornalistas contra o presidente era a sua idade, 80 anos. De parte da imprensa, é “pegação de pé”, que podemos traduzir como importunação. Dos adversários políticos é etarismo, uma aposta no preconceito que a sociedade tem contra os velhos. O fato é o seguinte. Israel e Hamas já tiveram vários enfrentamentos. Mas o atual é o primeiro transmitido online pelos telefones celulares. Isso tem significado uma abundância de imagens e depoimentos dos civis dos dois lados disponíveis para a imprensa ao apertar de um botão. Biden tem reafirmado o histórico apoio militar dos Estados Unidos a Israel. E o direito que os israelenses têm de se defender dos atos terroristas do Hamas. Mas tem afirmado o apoio dos Estados Unidos à existência de um país para os palestinos, conforme determinação das Nações Unidas (ONU). Também tem advertido o primeiro-ministro de Israel para que não cometa os mesmos erros que os americanos cometeram quando exerceram o seu direito de ir atrás dos culpados pelos atentados de 11 de setembro de 2001, os fundamentalistas ligados ao terrorista saudita Osama Bin Laden, da Al-Qaeda, que sequestraram aviões e os jogaram contra as Torres Gêmeas, em Nova York, e o Pentágono, em Washington (DC), matando e ferindo milhares de pessoas.
Biden falou em erros cometidos. Não mencionou os erros. Mas quando assumiu como vice do presidente Barack Obama (democrata), que governou o país de 2009 a 2017, desmontou uma série de estruturas espalhadas pelo mundo pela CIA, o serviço de inteligência dos Estados Unidos, que mantinham ilegalmente e submetiam à tortura prisioneiros ligados aos acontecimentos de 11 de setembro, entre eles a prisão na base militar americana de Guantánamo, em Cuba. E também as invasões do Afeganistão e do Iraque, que acabaram espalhando movimentos fundamentalistas pelo mundo islâmico. As condições precárias em que vivem os mais de 2 milhões de habitantes em Gaza, impostas pelo governo israelense, se agravaram durante o governo de Trump (2017 a 2021), que apoiou e incentivou o radicalismo do primeiro-ministro de Israel. Essas condições fortaleceram o Hamas no poder – há matérias disponíveis na internet. Atualmente, existe a possibilidade real de que o adversário de Biden seja novamente Trump. Ou, caso não seja ele, um candidato com um perfil político semelhante ao do ex-presidente, o que significa ter fortes ligações com a extrema direita. Até os dias atuais, nenhuma guerra teve tanto impacto na opinião pública dos Estados Unidos como a do Vietnã (1955 a 1975), na qual 58 mil soldados americanos morreram ou desapareceram. O final da década de 60 e início de 70 foi marcado por grandes mobilizações populares ao redor do mundo. Hoje, a época é outra. Ela é caracterizada por um avanço da extrema direita no mundo inteiro, que vem sendo detido pela abundância disponível de informações, graças às novas tecnologias de comunicação.
As eleições presidenciais americanas acontecem no próximo ano. Portanto, não existe interesse do governo Biden de que o conflito se prolongue por muito tempo. Muito embora o primeiro-ministro de Israel tenha afirmado que a guerra contra o Hamas vai ser longa. Netanyahu tem usado o mesmo linguajar do então primeiro-ministro da Inglaterra Winston Churchill (1874-1969), durante a Segunda Guerra Mundial (1938 a 1945). Na época, a Inglaterra vivia sob ameaça de ser invadida pela Alemanha nazista. Em um discurso histórico, para inflar a resistência e o ânimo dos ingleses, Churchill afirmou: “Lutaremos nos oceanos, na terra e no ar”. Embora a situação seja diferente, Netanyahu usa palavras semelhantes às de Churchill para encorajar o exército israelense para o confronto com o Hamas. Para arrematar a nossa conversa. Procurei e não encontrei um dado confiável sobre o tamanho da influência dos conflitos entre Israel e o Hamas sobre o eleitor americano. Mas na prática de quase quatro décadas na lida de repórter aprendi que vários motivos levam uma grande parcela de eleitores a decidir em quem votar a caminho do local de votação. Um dos motivos pode ser uma imagem. E imagens fortes têm sido geradas em abundância na guerra entre Israel e Hamas.