Aumenta a pressão para Bolsonaro definir o seu substituto nas eleições de 2026

Temer aconselha pauta comum aos candidatos a presidente Foto: EBC

O ex-presidente da República Michel Temer (MDB), 84 anos, tem um faro político muito apurado. Sentiu o cheiro de que está sendo beneficiada a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, pela insistência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, na pregação de que será candidato em 2026, apesar de ter sido declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O acordo de Bolsonaro com o seu partido é que ele indicaria um substituto na corrida pela Presidência da República e trabalharia pela candidatura do escolhido. Deve ser somado a essa situação a tentativa de enfiar garganta abaixo dos brasileiros o PL da Anistia, que perdoa os articuladores, os financiadores e os seguidores de uma organização criminosa que tentou dar um golpe de estado por meio de uma série de movimentos que se iniciaram em novembro de 2022 e culminaram em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes bolsonaristas quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). O PL da Anistia repousa na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota (Republicanos-PB), 35 anos, de onde não deverá sair tão cedo – matérias na internet.

No domingo (11), Temer falou sobre o assunto no programa Canal Livre, da Band, e durante a semana as suas declarações repercutiram em vários jornais. Principalmente a parte em que sugere que seja feito um acordo para criar uma pauta comum entre os candidatos da direita à Presidência da República. Atualmente, estão nas ruas os nomes de quatro governadores: de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos; do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), 44 anos; de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), 75 anos; e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), 40 anos. Vamos conversar sobre o assunto. O diagnóstico da situação feito por Temer é correto. Mas a medicação receitada tem problemas. Vou explicar. As análises de Temer partem do princípio de que existe uma polarização entre Lula e Bolsonaro, a exemplo da que houve nas eleições de 2022, quando o ex-presidente concorreu à reeleição em uma chapa que tinha como vice o general reformado Walter Braga Netto, 68 anos, enquanto Lula teve como vice Geraldo Alckmin (PSB), 72 anos. A polarização na época era ideológica em questões econômicas, de costumes e outras. Hoje, este tipo de polarização não existe. Por quê? Atualmente, Lula defende o estado de direito e o ex-presidente a anistia para si e para os outros golpistas. Falei sobre o assunto em um post publicado em 30 de junho de 2023, Bolsonaro saiu da história política do Brasil para a policial. Os motivos que separam os lulistas e os bolsonaristas nos dias atuais são outros. É isso que a imprensa precisa começar a explicar. Já falei sobre isso. Mas vou repetir por julgar relevante. Em 12 de abril, o jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, publicou um editorial chamado Bolsonaro atrapalha o Brasil, que em resumo dizia o seguinte: “As forças políticas deveriam se preocupar com a crise global, e não com a ‘anistia’ a Bolsonaro. Está na hora de deixar a Justiça cuidar do ex-presidente. O Brasil tem mais o que fazer”.

Temer não disse. Mas pode ser encontrado nas entrelinhas das suas entrevistas. A insistência de Bolsonaro em se candidatar e o PL da Anistia não só estão atrapalhando a escolha de um candidato da direita para substituí-lo em 2026, como também está contaminando a oposição. Lembro que o PL tem na Câmara, 99 dos 513 deputados, e no Senado, 13 dos 81 senadores. Vários senadores e deputados da situação têm reclamado do ambiente hostil que os seus colegas da oposição têm criado no Congresso. Recentemente, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara suspendeu por três meses o mandato do deputado Gilvan da Federal (PL-ES), 54 anos, por ter ofendido a deputada afastada Gleisi Hoffmann (PT-PR), 59 anos, dizendo que “devia ser uma prostituta do caramba”. O presidente da Câmara reclamou que este tipo de comportamento está atrapalhando o trabalho. Em uma olhada nas manchetes dos jornais e dos principais noticiários salta aos olhos a constante presença de assuntos relacionados aos bolsonaristas. Na quarta-feira (14), Bolsonaro lembrou aos governadores e parlamentares que se elegeram graças ao seu prestígio político que eles precisam se esforçar mais para aprovar o PL da Anistia, entre outros interesses da direita.

A minha grande curiosidade atualmente nesta história é saber o que Temer está articulando entre as quatro paredes. O ex-presidente só dá o ar da sua graça quando tem muitas informações e já organizou uma estratégia para vender as suas ideias. Ele tem muita cautela quando circula entre os seguidores de Bolsonaro, que vez ou outra o xingam nas redes sociais. Por ter sido ele, quando era presidente da República, que indicou para STF o então seu ministro da Justiça e Segurança Pública Alexandre de Moraes, 56 anos. O ministro Moraes é da Primeira Turma do STF, onde tramitam os processos contra Bolsonaro e seus seguidores que tentaram o dar o golpe de estado. A bronca dos bolsonaristas com Moraes vem de longe – matérias na internet. Na quarta-feira (14), Bolsonaro citou e não fez maiores comentários sobre a proposta de Temer de uma pauta comum para os candidatos a presidente.

Para arrematar a nossa conversa. Sempre que tenho oportunidade repito que Bolsonaro não é um gênio da articulação política. Mas tem um instinto muito apurado de sobrevivência na política. Portanto, sabe que começa a se esgotar o seu tempo para definir o seu futuro. Se não o fizer, será atropelado pela disputa eleitoral. Lembro que quatro governadores já colocaram os seus nomes na rua. Um deles, Tarcísio, de São Paulo, é afilhado político de Bolsonaro. Publicamente, defende a ideia da candidatura do ex-presidente. Pelo outro lado, trabalha pela sua própria candidatura. Lembro que nos dias seguintes à derrota de Bolsonaro para Lula no segundo turno das eleições de 2022, quando começou a tomar corpo a ideia do golpe de estado, um dos seus ministros o aconselhou a esquecer a história, reconhecer a vitória de Lula e assumir o comando da oposição ao governo eleito. Como se diz no interior gaúcho, o conselho entrou em um ouvido e saiu pelo outro. O que aconteceu nos dias seguintes está contado nas mais de 800 páginas do relatório final da Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente e outras 33 pessoas por formação de uma organização criminosa com a finalidade de dar um golpe de estado. E nas 272 páginas da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) à Primeira Turma do STF, que tornou réus os 34 indiciados pela PF.

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