
Os analistas da política brasileira não estão falando a respeito da influência que terá o “tarifaço do Trump” na eleição de 2026 para presidente do Brasil. Essa história teve, tem e terá por muito tempo influência na economia, na política e no modo de vida de vários países. Por que não ia repercutir também na eleição brasileira? É sobre isso que vamos falar. Mas antes vamos seguir o manual do bom jornalismo e contextualizar a nossa conversa. “Tarifaço do Trump” foi como a imprensa apelidou a aplicação de tarifas de importação pelos Estados Unidos, anunciada com pompa no final da tarde da última quarta-feira (02/04), no gramado da Casa Branca, em Washington (DC), pelo presidente americano, Donald Trump (republicano), 78 anos.
Resumindo a história. A ideia de Trump é acabar com a globalização, o processo de integração econômica que nas últimas décadas espalhou pelo mundo fábricas e prestadores de serviços em busca de mão de obra mais barata. No caso dos Estados Unidos, indústrias como as de veículos, farmacêuticas, produtos eletrônicos e várias outras se instalaram no México, Canadá, China, Vietnã, Índia, Paquistão. Os produtos fabricados nestes países são exportados para os consumidores americanos. Trump sobretaxou essas importações. A China, que em fevereiro já havia sido taxada em 20%, foi tarifada com mais 34%, o mais alto percentual, somando um total de 54%. O Brasil ficou na faixa dos 10%, a mais baixa. O objetivo da tarifação das importações é forçar as empresas a fecharem as suas fábricas no exterior e voltarem para o território americano. No seu discurso, Trump disse que a quarta-feira foi o “dia da libertação”. Terminada a contextualização, vamos a nossa conversa. É opinião dos mais renomados pesquisadores e economistas que o que aconteceu no gramado da Casa Branca, na tarde de quarta-feira, teve o objetivo de colocar um ponto final na globalização da economia. Este é o motivo pelo qual o “tarifaço do Trump” mexeu com todos os governantes de todos os países pelo mundo afora. Ninguém sabe como essa história vai terminar. O que se sabe é que as medidas anunciadas por Trump causaram um rebuliço na economia mundial. Em que trilhões de dólares estão trocando de mãos a cada dia.
Essa história vem sendo acompanhada minuto a minuto pelos jornais, TVs, rádios, sites e nas redes sociais. Portanto, é o assunto mais comentado no mundo. Logicamente, irá se refletir nas eleições de 2026 no Brasil. A imprensa brasileira, em especial os grandes jornais, estão se aprofundando na análise econômica do tarifaço. Não tem como ser diferente. Mas não deveria ser só isso. Considero que seria apropriado os comentaristas políticos começarem a falar com os leitores sobre a influência desse acontecimento na próxima eleição. Está assim o quadro atual na corrida pela Presidência da República. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, concorre à reeleição enfrentando a seguinte situação. O Brasil se perfilou entre os países que sofreram a menor tarifação dos americanos. Isso não significa que não terá prejuízos pela frente, como é o caso da exportação do aço – matérias na internet. Mas também terá chance de fazer bons negócios, especialmente na indústria de calçados, porque a China, grande concorrente dos brasileiros no setor, foi taxada em 34%. Isso significa que se o governo Lula agir com sabedoria dentro do caos criado pelo “tarifaço do Trump” poderá até sair da situação com algum lucro. O que aumentaria o seu capital político para 2026. Isto já aconteceu no primeiro governo Trump (2017 – 2021), quando os Estados Unidos taxaram as importações de alguns países, o que acabou criando um mercado novo para a carne bovina e a soja brasileira. Mas a situação mudou. No primeiro mandato, Trump foi boicotado pelos seus secretários (ministros) e funcionários de carreira que tornavam sem efeito muitas das suas decisões. No atual, ele tomou o cuidado de se cercar apenas de pessoas 100% fiéis a suas ideias, como é caso do bilionário Elon Musk, 53 anos, dono do X e de várias empresas de alta tecnologia, e responsável pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Ou seja, ninguém sabe o que Trump fará amanhã pela manhã. Nos tempos das máquinas de escrever nas redações assim se descrevia uma pessoa imprevisível como o presidente americano: “Uma granada sem pino”.
Do outro lado na disputa presidencial brasileira, o principal adversário de Lula é o prestígio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70 anos. Eu explico. Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também está respondendo a um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), com mais 33 pessoas, entre elas ex-ministros (27 militares da ativa, reserva e reformados), por formação de uma organização criminosa que tentou dar um golpe de estado. O ex-presidente insiste que será candidato em 2026. Mas até as pedras dos calçamentos de Brasília (DF) sabem que ele vai indicar um substituto. A ficha um é o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos. Além dele, existe uma fila de outros seis candidatos disputando a indicação do ex-presidente. Bolsonaro e a sua família são seguidores e defensores de Trump. Portanto, se o tarifaço não trouxer prejuízos para o Brasil, aumenta o capital político de Bolsonaro. Caso contrário, o seu prestígio político diminuirá. É simples assim. A imprensa não está falando do assunto. Mas a bagunça criada pelo presidente americano tem potencial para criar a oportunidade do surgimento de um terceiro candidato a presidente da República que não tenha laços políticos nem com Lula nem com Bolsonaro. Quem duvida?
Para arrematar a nossa a história. Pelo tamanho da bronca, o “tarifaço do Trump” não tem como não interferir na disputa eleitoral no Brasil em 2026. Vivemos em um mundo conectado pelas novas tecnologias da comunicação. O tarifaço só não influenciaria na disputa eleitoral se o Brasil ficasse em outro planeta. Bem longe da Terra, para não ser alcançado pelos foguetes de Musk. Fato é que o presidente americano simplesmente deu um “cavalo de pau” (uma manobra feita com o carro que inverte o sentido do deslocamento) na economia mundial. Na sexta-feira (04/02), o governo da China disse que vai retaliar os Estados Unidos, taxando os produtos importados americanos em 34%. Como se diz no interior do Rio Grande do Sul: vai ser uma “briga de cachorro grande”. Temos que avisar o nosso leitor que o mundo econômico como o conhecemos corre o risco real de desaparecer. O que vai surgir no lugar?