Bolsonaro insiste em 2026, seguidores fingem acreditar e buscam candidatos

Enquanto faz campanha para presidente, governador paulista diz que não é candidato Foto: EBC

A mensagem foi reafirmada em alto e bom som. O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, continua apostando que será candidato nas eleições presidenciais de 2026. O recado foi dado na manifestação pelo PL da Anistia feita por bolsonaristas na quarta-feira (7), em Brasília (DF). Para quem foi o recado? A história é a seguinte. Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão do TSE não afetou o prestígio político do ex-presidente, que nas eleições de 2022 elegeu dezenas de parlamentares e governadores. O presidente do seu partido, Valdemar da Costa Neto, 75 anos, resolveu apostar e custear a presença de Bolsonaro na cena política para usar o seu prestígio e eleger parlamentares, governadores e o próximo presidente da República. A tese de que Bolsonaro será candidato começou pequena e acabou tomando corpo com o passar do tempo. A tal ponto que, nos dias atuais, estão se formando grupos na direita que se organizaram para ter o seu próprio candidato. E reclamam que o ex-presidente está atrapalhando. Portanto, são para estes grupos que Bolsonaro endereçou o seu recado – matérias disponíveis na internet. Falei sobre estes grupos no início do mês, no post Substituto de Bolsonaro conseguirá polarizar a eleição com Lula?, publicado em 2 de maio.

Antes de seguir a nossa conversa vamos contextualizar o assunto, como manda o manual do bom jornalismo. As manifestações pelo PL da Anistia (como ficou conhecido o Projeto de Lei 2858/2022) já aconteceram no Rio de Janeiro, em São Paulo e agora foi Brasília. O PL tem como objetivo anistiar os organizadores, os financiadores e aqueles que estavam acampados na frente dos quartéis e que, em 8 de janeiro de 2023, quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, projeto está na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos. Motta repetiu várias vezes que os líderes partidários decidiram que o assunto não é uma prioridade nacional. Em abril, uma pesquisa da Quaest mostrou que 56% dos brasileiros são contra a anistia. Feita a contextualização, vamos voltar a nossa conversa. Para Bolsonaro parar de atrapalhar a escolha de que vai concorrer pela direita nas próximas eleições o primeiro passo é convencê-lo que acreditou na própria mentira. Além da decisão do TSE, ele é réu na Primeira Turma do STF no caso da formação de uma organização criminosa para dar um golpe de estado. Aprendi durante o governo do ex-presidente que depois que ele acredita em uma ideia, vai até o fim. Se depender de Costa Neto, a história termina com Bolsonaro apoiando a candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos. Apesar de publicamente Costa Netto reafirmar que o candidato é Bolsonaro, como foi o caso na manifestação pelo PL da Anistia em Brasília. O presidente do PL é conhecido por ser um dos mais calejados articuladores políticos do país. Sabe que terá que negociar com Bolsonaro a desistência dele para não perder o tempo e o dinheiro investidos nesta história.

Tenho por costume trocar ideias com colegas que conheci pelos rincões do Brasil fazendo reportagens investigativas e coberturas de conflitos agrários. Liguei para um deles, um repórter que virou articulador político no interior do Paraná. Conversamos sobre o governador de São Paulo. Ele disse que, pelos meus textos, continuo acreditando que Tarcísio será o substituto de Bolsonaro em 2026. Argumentou o seguinte: “Estás olhando para a árvore, e não toda a floresta”. Retruquei: “Então, fala aí!” Ele explicou: “Atualmente, o apoio de Bolsonaro não significa só prestígio político, vêm junto também fatos que tiram votos, como a insistência com a anistia. Sabe o que isso significa? Ter que explicar as imagens dos bolsonaristas quebrando tudo em Brasília. Como tenho lido nos teus textos, uma imagem fala por mil palavras. Aliás, o Xandão (ministro do STF Alexandre de Moraes, 56 anos) tem usando estas imagens para resumir os atos golpistas”. Acrescentei que além destas imagens há ainda as dos cemitérios durante a pandemia e um relatório de 1,3 mil páginas da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19 (CPI da Covid) que colocam as digitais do governo Bolsonaro na morte de 770 mil brasileiros.

Ele disse que quem for indicado por Bolsonaro vai ter que explicar todos estes rolos nos debates dos candidatos. “Além disso, terá que enfrentar nas urnas o Lula, um adversário de alto quilate”. Lembrou que até agora Tarcísio só surfou no lado positivo do bolsonarismo. Não precisou dar explicações para absurdos como a tentativa de golpe e outros episódios. E que se concorrer à reeleição para governador tem boas chances de ganhar e construir um considerável capital político para os próximos anos. Disse que caso Lula seja reeleito, ele não poderá concorrer em 2030. O que significa que Tarcísio terá uma boa chance de se eleger presidente. Falei que teoricamente existe a possibilidade de Bolsonaro concorrer em 2030. Ele respondeu: “A situação dele com a Justiça vem se complicando a cada dia. Sabe-se lá como vai estar em 2030. Inclusive, pode estar até na cadeia”. Lembrei ao colega que a maioria dos argumentos citados por ele vem sendo ditos desde 2024 por Gilberto Kassab, 64 anos, presidente nacional do PSD e secretário de Relações Institucionais do Estado de São Paulo. Respondeu: “Kassab disse o lógico. Eu te pergunto. Caso o Tarcísio concorra a presidente em 2026 e perca, o que ele irá fazer até as próximas eleições?” Não respondi à pergunta e a nossa conversa mudou de rumo. Começamos a falar de “abobrinhas”, uma gíria das redações dos jornais para denominar assuntos pouco relevantes. O governador de São Paulo é um estreante na política. E aprendeu que todos aqueles que desafiaram publicamente o ex-presidente não se elegeram nem para síndico do seu prédio. Então, a exemplo de Costa Neto, publicamente Tarcísio finge acreditar e incentiva a ideia de que Bolsonaro será candidato em 2026. Mas, nas suas declarações, é possível encontrar pistas de que já está em plena campanha presidencial. Como dizia um colega repórter na redação nos tempos das máquinas de escrever: “a fila anda”.

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