Olhando a volatilidade da conjuntura política brasileira, não há como afirmar quem será o próximo presidente da República. Mas podemos afirmar, com certeza, que o PMDB fará parte do governo. E a estrada para o partido chegar lá está sendo pavimentada pelo senador Renan Calheiros (PMDB – AL), ao se posicionar contra o poderoso grupo político que apoia o presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP).
A habilidade com que Calheiros – 61 anos, a maioria deles fazendo política – tem defendido seus interesses – políticos, econômicos e pessoais – no cenário nacional tem assegurado a sua sobrevivência na carnificina que é a disputa parlamentar. A habilidade do senador se sobressai pela sua capacidade de enxergar o futuro.
Qual é o futuro que Calheiros está vendo? Desde a democratização do país, em 1985, o partido tem se mantido no poder, por ser necessário para a governabilidade dentro de uma realidade de enorme fragmentação partidária. A moeda cobrada tem sido cargos na administração federal. A essa realidade, soma-se um fato totalmente novo. O parlamentar enrolado com a Justiça, principalmente com a Operação Lava Jato, que ficar sem o foro privilegiado corre o risco real de ir para a cadeia. Está aí o caso do ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB – RJ), que teve seu mandato cassado é está cumprindo pena em um presídio da Região Metropolitana de Curitiba (PR).
Aloja-se no PMDB a maioria dos parlamentares que correm o risco real de ir para a cadeia, se perderem o foro privilegiado. E há uma boa quantidade espalhada por outros partidos. Calheiros é o expoente máximo do grupo – responde a processos e inquéritos policiais. E, ao se posicionar contra o poderoso grupo político que apoia o presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), um dos governos mais impopulares da história do Brasil, o senador está fazendo dois movimentos: o primeiro é acumulando capital político para disputar à reeleição. O segundo, pavimentando caminho para futuras alianças com vista a um cargo com foro privilegiado no futuro governo, caso não seja reeleito.
A situação descrita é o futuro que o senador enxerga e organiza para sobreviver. Antes de finalizar a prosa, vou refletir com os meus colegas repórteres, principalmente os novatos na lida, sobre a votação das reformas da previdência. Se os deputados e senadores, enrolados com a Justiça e da base parlamentar de Temer, sentirem que a sua reeleição pode ser comprometida pelo seu voto, eles racham com o governo. Calheiros é o líder deles.