Texto: Márcio Pinheiro*
Lancei no Facebook a seguinte provocação: “Mistério do planeta: restaurante sem cliente, fecha; jornal sem leitor, acaba; praça sem criança, se deteriora. Mas ciclovia sem ciclista, se multiplica. Recebi piadas, insultos, deboches, provocações e até muxoxos. Só não recebi respostas claras. Como o trânsito de Porto Alegre me interessa muito, acredito que a questão das ciclovias tenha que estar presente nas pautas de candidatos à Câmara Municipal e à prefeitura no ano que vem. Me espanta a quantidade absurda de ciclovias criadas recentemente, num crescimento excessivo e desproporcional ao número de ciclistas que se disponham a usá-las. As novas ciclovias arrancam generosos nacos de ruas e avenidas sem a devida contrapartida. O trânsito não melhora, só piora.
Não conheço nenhum caso de algum porto-alegrense que tenha se dado ao luxo de ter abandonado o carro e adotado a bicicleta como solução para seus problemas de locomoção pessoal ou profissional. Minto. Conheço um. Não por coincidência, trabalha em casa. Porto Alegre – ciclísticamente falando – é inviável. Para quase todo o lado que se vá é lomba abaixo, lomba acima. Tem ainda o clima. A capital gaúcha tem pelo menos dois meses – e estou deixando barato – que faz muito calor e outro que faz muito frio. Chuva, então, são frequentes – em qualquer época do ano.
Quase tanto quanto a profusão de ciclovias, me espanta também o silêncio de muitos que se sentem igualmente incomodados com este problema. Recebo muitos apoios “inbox”. Compreendo: as ciclovias são simpáticas, sustentáveis, libertadoras, resistentes e se adaptam a tantos outros destes clichês recentes que blindam os adeptos de soluções básicas e quase sempre equivocadas. Ciclovia é a maneira mais simples de tirar carteira de tolerante, moderno, simpático a custo zero. Um exemplo: recebi, obviamente “inbox”, a manifestação de apoio de outro amigo, curiosamente alguém habituado a se envolver em polêmicas. Porém, neste caso ele preferiu se preservar, saindo pela tangente ao declarar que as ciclovias eram um “modismo”.
Em parte, também concordo com ele. E isso também me assusta: ver um “modismo”, defendido por grupos articulados e barulhentos, ocupando o espaço de uma discussão que mereceria ser levada com maior seriedade. Antes de infestar a cidade com ciclovias, a prefeitura deveria priorizar outras soluções como ônibus, metrôs, táxis, ubers, lotações, carros elétricos, catamarãs e até fazer ressurgir os bondes. Costumo brincar com os mais exaltados nas minhas postagens que até uma cavalovia – em nome das nossas tradições e do nosso arraigado regionalismo – faria mais sentido. Tem ainda o aspecto econômico: o dinheiro gasto com ciclovias poderia ser melhor utilizado no aperfeiçoamento das frotas de ônibus, na melhoria das paradas e no restauro dos asfaltos esburacados. Vejo ainda manifestações disparatadas, do tipo “vamos colocar ciclovias que os ciclistas aparecem”. Ora, se colocarmos trilhos, trens e bondes brotarão do chão?
Nos últimos dias me dediquei a fotografar estas ciclovias – nos mais variados trechos e horários – e em todas, gastando apenas alguns minutos, pude perceber a total falta de sentido. O que registrei de veículos passando no local por minuto era muito superior ao número de ciclistas num período de tempo trinta vezes maior.
Concordo que os carros estão ficando cada vez mais obsoletos. Porém a demonização do automóvel em nada ajuda na busca de uma solução para o trânsito. As ciclovias prejudicam até o fluxo das ideias, atravancando a discussão, e muitas vezes levando o debate ao mesmo destino de muitas delas: lugar nenhum.
*Jornalista e escritor
Eu concordo plenamente com o texto do Marcio Pinheiro. Inclusive apoio se ele criar um movimento do tipo POA SEM CICLOVIAS! Estamos esperando até agora o metrô que a Dilma prometeu e caiu no esquecimento. Este sim, seria uma bandeira pela qual lutar, porque resolveria boa parte dos problemas de transportes de Porto Alegre.
É verdade