A divulgação dos índices de criminalidade pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul deixou uma pergunta no ar que nós, repórteres, precisamos explicar aos nossos leitores. Como o secretario da SSP, Cezar Schirmer, conseguiu baixar os principais índices de criminalidade, tipo homicídios (24,5%) e latrocínios (35,6%), no primeiro semestre de 2018 (comparado com o mesmo período de 2017), pagando com atraso os salários da Brigada Militar, da Polícia Civil e dos agentes penitenciários? Em uma busca nos conteúdos dos noticiários dos primeiros meses da administração do atual governador, José Ivo Sartori (MDB), o atraso no pagamento dos funcionários da segurança pública era apontado como um fato que contribuiria para a explosão da violência no território gaúcho. A exemplo do que acontece em outros estados com problemas semelhantes, como o Rio de Janeiro – que está sob intervenção federal. O que aconteceu de diferente no Rio Grande do Sul?
Para responder essa pergunta ao nosso leitor, vamos começar lembrando o que já sabemos. No Rio Grande do Sul, o atraso nos salários atinge a todos os funcionários públicos ligados ao Poder Executivo (professores, policiais e servidores das secretarias). A maneira que policiais e agentes penitenciários encontraram para sobreviver com atraso de pagamento foi a intensificação do bico – trabalho de segurança e outras atividades na iniciativa privada. Isso significa que o policial chega ao seu trabalho cansado pela dupla jornada. Aqui cabe uma pergunta. Devido à fadiga, o policial gaúcho tem cometido erros no seu trabalho? Todo o repórter aprende, nos seus primeiros dias de redação, que o governo sempre mente para a imprensa, seja lá qual for o seu partido. E uma das suas mentiras favoritas é a de “ajeitar as estatísticas“ para torná-las favoráveis à administração. E que, a exemplo de outras pessoas que já ocuparam o cargo de secretário da SSP, Schirmer tem o direito de vender o seu peixe. Compra quem quiser.
Dentro dessa realidade, é uma perda de tempo nós, repórteres, ficarmos batendo boca com as autoridades sobre de onde saíram os números publicados. Temos que nos focar em explicar os fatos. Um exemplo. A transferência dos 27 chefes de quadrilhas das prisões gaúchas para prisões federais de segurança máxima, no ano passado, que foi apresentada como um fator de diminuição da violência. Aqui é o seguinte. Mesmo que um chefe de quadrilha tenha a sua disposição na cadeia um celular, outros meios de comunicação e um bom gerente para tocar os seus negócios fora do presídio. É fato sabido que, por eles estarem presos, o seu poder no bando vai sendo corroído dia a dia, e outras lideranças surgem. Isso acontece mesmo nas grandes organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Aqui, no Rio Grande do Sul, pela estrutura dos bandos (a sua grande maioria pequenos), o processo de corrosão das lideranças presas é bem mais acelerado do que nos grandes centros, como Rio e São Paulo.
Por não sabermos com exatidão qual o efetivo poder que os chefes de quadrilha presos têm sobre os seus bandos, tivemos que comer na mão das autoridades, quando divulgaram os números de diminuição devidos à transferência deles para os presídios federais. Caso se confirme a volta dos chefes para os presídios gaúchos, nós, repórteres, também ficaremos nas mãos das autoridades para saber como serão afetados os índices de violência. Em minha opinião, nós, repórteres, temos que alertar aos nossos leitores que não sabemos com exatidão do tamanho do poder que esses chefes de quadrilha ainda detêm em suas mãos. A justificativa que tenho para a minha opinião é a de que o nosso leitor continua tendo sérios problemas com segurança, tipo: roubo de carros, ataques a caixas eletrônicos e assaltos a pedestre (um dos crimes que mais apavoram o cidadão).
A história nos ensina que as organizações criminosas sobrevivem porque se atualizam constantemente às mudanças do contexto ao seu redor. Pela relevância que as questões de segurança pública têm, na atualidade, no cotidiano da população, é preciso que tenhamos um conhecimento atualizado de quem é quem entre os bandidos. Sem esse conhecimento, não temos como argumentar contra as estatísticas oficiais. É fato.
o maior atraso é da turma sem emprego e sem ,possibilidade
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