Qual será o impacto que terá, entre os eleitores da chamada “maioria silenciosa”, o julgamento em Porto Alegre, no próximo dia 24, da apelação do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP), na sede do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4)? Lula apela contra uma sentença dada no ano passado pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, em Curitiba (PR), de 9 anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A condenação se refere a um apartamento triplex em Guarujá (SP), pelo qual Lula é acusado de ter recebido como propina da construtora OAS. Se a condenação for confirmada, o ex-presidente fica inelegível nas próximas eleições presidenciais, onde ocupa o primeiro lugar nas pesquisas. E também poderá ser preso. A história política do Lula o tornou um ícone da política nacional conhecido ao redor do mundo. Os olhos da “maioria silenciosa” estão voltados para três pontos desse episódio: o que esta acontecendo antes do julgamento – movimentações dos apoiadores, dos contrários e das autoridades responsáveis pela segurança. O resultado do julgamento e seus desdobramentos. E, por último, no que nós, repórteres, estamos publicando nos noticiários a respeito de tudo isso. Por ser em Porto Alegre o julgamento, o trabalho do repórter gaúcho também estará no banco dos réus.
Esse é o cenário que foi montado no final do ano passado, quando foi marcada a data do julgamento da apelação do Lula. Antes de seguir contando a história, vou esclarecer alguns detalhes que julgo necessários. Entre os repórteres, definimos como “maioria silenciosa” as pessoas que não participam de manifestações políticas em via pública, contra ou favor de uma causa, e são discretos nas redes sociais. Mas agem no momento de votar. Em 2016, quando a situação política e econômica do Brasil já dava sinais de deterioração, no segundo turno das eleições de prefeitos para 57 cidades, a soma da abstenção e dos votos brancos e nulos somou 32,5% dos eleitores. Em 2012, foram 26,5%. Em 2016, em Porto Alegre, foi eleito no segundo turno o atual prefeito, Nelson Marchezan Jr. (PSDB – RS), com 402.165 votos (concorreu com Sebastião Melo, PMDB – RS, que fez 262.601 votos. A soma das abstenções e dos brancos e nulos foi de 433.751 votos, bem superior aos que elegeram Marchezan. Aqui gostaria de refletir com os meus colegas repórteres, velhos e novatos. O voto no Brasil é obrigatório, ponto. Mas a Constituição assegura o direito de as pessoas protestarem se abstendo, votando em branco ou anulando o seu voto. E qual é o nosso papel de repórter dentro dessa realidade? Não fazer pregação contrária ao direito da “maioria silenciosa” de protestar – alardeando que estão colocando a democracia brasileira em risco. Afirmo que somos nós, repórteres, que colocamos a democracia em risco todo vez que publicamos uma informação mal apurada. No caso da “massa silenciosa”, a nossa tarefa é garantir que recebam uma informação correta, escrita de maneira simples e direta, sobre os fatos ao seu redor. O que o nosso leitor irá fazer com a informação é problema dele.
Dentro desse contexto, é essencial jornais (sites, TVs, rádios e outras plataformas de mídia) se engajarem na cobertura de antes, durante e depois do julgamento. Uma olhada no que estamos publicando mostra que isso não está acontecendo com a intensidade que o fato requer. Aqui vou fazer uma comparação com a qual gostaria da atenção dos repórteres novatos. Se o julgamento da apelação de Lula fosse um Gre-Nal (disputa entre o Colorado e o Grêmio) decisivo, generosos espaços dos noticiários já estariam sendo ocupados pelos nossos colegas da mídia esportiva. Talvez nós, repórteres investigativos, devêssemos vestir as sandálias da humildade e aprender com os colegas do esporte como se faz para fazer uma cobertura interessante de um evento, antes, durante e depois.
É bom lembrar que, assim como a “massa silenciosa” protesta contra os políticos se abstendo, votando em branco ou anulando o voto, ela poderá protestar contra o nosso trabalho, cancelando assinaturas de jornais (sites e Tvs a cabo). Aliás, de certa maneira, isso já vem acontecendo. O julgamento da apelação de Lula é uma oportunidade de mostrar serviço ao nosso leitor.