Independentemente do que o Sérgio Zveiter (PMDB – RJ) irá escrever em seu relatório na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal sobre a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), acusando o presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), de ter recebido propina do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS e delator da força-tarefa da Operação Lava Jato. E também do que irão decidir os deputados quando votarem em plenário o relatório de Zveiter. Temer já foi condenado pela opinião pública que acredita serem verdadeiros o vídeo e o áudio divulgando, nos noticiários e nas redes sociais, que documentaram o envolvimento do presidente com o empresário.
Antes de seguir contando a história, vamos parar e refletir. A primeira coisa que um repórter ouve quando entra em uma redação é o dito popular “uma imagem vale mais que mil palavras”. É contra nós, repórteres, que adoramos escrever. Mas é uma verdade. Ainda mais nos tempos atuais, onde a tecnologia faz uma imagem dar uma volta ao mundo em segundos. O dito popular é muito antigo. Ele é do pensador político e filósofo Confúcio (Chiu Kung era seu verdadeiro nome), que viveu entre 552 e 479 a.C. E foi a imagem o grande diferencial na delação de Joesley Batista entre as dezenas de outras feitas à força-tarefa da Lava Jato por empresários, burocratas do governo e ex-parlamentares e doleiros.
A imagem da delação de Joesley Batista colou no presidente da República como se fosse um chiclete usado, jogado na calçada, em uma sola de sapato. O roteiro da construção da imagem começa com o áudio feito com um gravador escondido pelo empresário, durante uma conversa com Temer, em que foi tratado o pagamento de propina para resolver problemas da JBS. O conteúdo da gravação liga o presidente da República ao seu assessor e amigo, o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB – PR). Loures é indicado por Temer para resolver os problemas da JBS e receber a propina. O passo seguinte do roteiro são os agentes da Polícia Federal (PF) fazendo um vídeo de Loures recebendo uma mala com R$ 500 mil de propina – a primeira parcela de um pagamento mensal que duraria pelos próximos 20 anos. Logo depois de receber a mala com a propina, Loures caminha pelas ruas de São Paulo rumo a um táxi, que o esperava com o porta-malas aberto.
Nas últimas semanas, o áudio e o vídeo vêm sendo sistematicamente repetidos nos noticiários e nas redes sociais ao redor do mundo. Hoje, o ex-deputado é conhecido como o “homem da mala do Temer”. Pelas pesquisas de opinião divulgadas, com manifestações de setores importantes da sociedade, a imagem é uma prova contundente perante a opinião pública do envolvimento ilegal de Temer com a JBS. Jamais se tinha visto tal coisa no Brasil. Vejamos as imagens que ficaram de outros presidentes da República afastados do cargo. Dilma Rousseff (PT – RS), de quem Temer era vice e agora ocupa o cargo. Ela foi afastada por um impeachment no ano passado. O caso ficou conhecido como “as pedaladas fiscais”, que foram empréstimos feitos em bancos oficiais, sem autorização do Senado, para cobrir rombos nas contas públicas. A imagem que ficou foi a dela pedalando uma bicicleta. Fernando Collor (PRN – AL), afastado pelo impeachment em 1992. Existiam várias e sérias acusações contra ele. Mas a imagem que foi para a história é a dele dirigindo uma camioneta Elba, um carro popular na época, comprada com dinheiro ilegal. Jânio Quadros , que renunciou ao cargo em 1961 com o argumento de que estava sendo pressionado por forças ocultas. A imagem que ficou é ele entrando em um fusquinha e indo para casa. A renúncia dele foi uma aposta que fez, acreditando que voltaria para o cargo nos braços do povo. Não voltou e aplainou o caminho para um golpe dado pelas Forças Armadas (1964 a 1985). Jânio entrou na história com fama de “louco”.
O resultado dessa situação. Hoje, o grupo político de Temer trava duas batalhas. Uma é na Câmara Federal, onde articula para os deputados votarem pelo arquivamento da denúncia do MPF. O grupo tem chance de ter sucesso pela sua competência na arte da articulação política, com mostra o seu currículo. Recentemente, conseguiram que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inocentasse a chapa Dilma/Temer de ter recebido propina na reeleição de 2014. Se a chapa fosse condenada, Temer perderia o cargo. No ano passado, o grupo organizou a conspiração contra Dilma, o que resultou no seu Impeachment e na sua substituição pelo seu vice, Temer.
O segundo campo de batalha no qual o grupo político de Temer está envolvido é em reverter a condenação da opinião pública ao envolvimento do presidente com a JBS. Essa batalha Temer já perdeu, graças ao vídeo e ao áudio que documentaram as negociações entre Joesley Batista e Temer. Uma olhada atenta aos noticiários mostra que o grupo político do presidente está encurralado pela opinião pública. Não é por nada que políticos do quilate do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e vários comentaristas políticos têm escrito e recomentado a Temer que renuncie ao cargo. O que a opinião pública irá fazer sobre a insistência do grupo de Temer em permanecer no poder, arrastando o Brasil para um abismo político e econômico? A saber nas eleições de 2018: a soma dos votos nulos, brancos e abstenções pode ser uma das maiores da história do país.