
De qualquer ângulo que se olhar, está em queda o prestígio político da família do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 70 anos. Justamente em um momento muito delicado para o ex-presidente. Vamos aos fatos. A previsão é de que nos próximos dias os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidirão se aceitam ou não a denúncia da Procuradoria-geral da República (PGR), um documento de 272 páginas, contra Bolsonaro e outras 33 pessoas (27 militares da ativa, reserva e reformados) por tentarem dar um golpe de estado. Se a denúncia for aceita, eles se tornarão réus e o processo começará a caminhar. Tentando pressionar e impressionar os ministros, no último domingo (16/03), financiado e apoiado pelo pastor Silas Malafaia, 66 anos, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Bolsonaro tentou fazer uma demonstração de força política: pretendia reunir 1 milhão de pessoas na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas reuniu apenas em torno de 18 mil. Na terça-feira (18/03), um dos seus filhos parlamentares, Eduardo, 40 anos, deputado federal por São Paulo, tentou impactar a opinião pública anunciando que havia pedido licença do seu mandato, sem remuneração, para viver nos Estados Unidos. Alegando que os ministros do STF, em particular Alexandre de Moraes, 56 anos, tornaram o Brasil uma ditadura. Tive o cuidado de acompanhar os principais noticiários das TVs a cabo, das emissoras de rádio e dos sites dos jornais em busca da repercussão da decisão do deputado. Como se dizia nos tempos das máquinas de escrever nas redações: “a montanha pariu um rato”. O caso não virou manchete nacional, nem sequer notícia importante nos jornais nacionais e regionais. O ex-presidente tem mais alguma carta na manga para pressionar os ministros do STF? Vamos conversar sobre o assunto.
Antes, uma explicação que julgo necessária. Não vou especular sobre a história de Eduardo Bolsonaro. Há um vasto material disponível na internet. E pela velocidade com que as coisas estão acontecendo é um assunto para a cobertura diária da imprensa. Prefiro conversar sobre fatos já consolidados. Por quê? Por entender que são necessários para podermos explicar aos nossos leitores o tamanho da encrenca em que o ex-presidente se meteu. Está escrito lá nas 882 páginas do relatório da investigação feita pela Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe que havia vários grupos de pessoas ao redor de Bolsonaro, formados por assessores, parentes e amigos, o aconselhado como deveria agir depois que foi derrotado, em 2022, pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, na sua tentativa de reeleição, numa chapa que tinha como vice o general da reserva Walter Braga Netto (PL), 68 anos. Dois grupos mereceram a atenção dos federais: um que defendia o golpe de estado e outro que pregava a obediência à Constituição. O maior argumento dos que defendiam a Constituição era que, se Bolsonaro seguisse à risca a cartilha, se tornaria o líder da oposição ao governo Lula. Optando por este caminho, teria jogado um balde de água fria nos atos golpistas que já estava em andamento, como a tentativa de explodir um caminhão-tanque carregado de combustível para avião no Aeroporto Internacional de Brasília. E também é provável que não tivesse acontecido o 8 de janeiro de 2023, quando bolsonaristas que estavam acampados diante dos quartéis invadiram e quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no STF, na Praça dos Três Poderes. Bolsonaro decidiu seguir o conselho do grupo que defendia o golpe. Nas últimas horas do seu mandato, subiu no avião presidencial e foi para os Estados Unidos. E deixou as coisas rolarem. Essa viagem entra na investigação como a construção de um álibi. Caso desse alguma coisa errada com a tentativa de golpe, ele não estaria no Brasil. Há uma pequena montanha de provas envolvendo o ex-presidente com os golpistas. Lembro que a PF encontrou muitas destas provas graças à delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, 45 anos, que foi ajudante de ordens do ex-presidente.
Na manifestação de domingo, Bolsonaro defendeu a ideia de aumentar a bancada do PL no Congresso nas eleições de 2026 para conseguir fazer andar o projeto de anistia para os atos golpistas de 8 de janeiro. Por conta destes atos, cerca de 2 mil pessoas foram investigadas, 371 já foram julgadas e condenadas, algumas a penas de mais de 17 anos de cadeia, 527 fizeram acordo com a Justiça e o restante responde a processos. Expliquei essa história no post da última terça-feira (18/03) A imprensa, a entrevista de Sarney e a luta pela anistia dos bolsonaristas golpistas. O jabuti no projeto de anistia, que tramita no Congresso, é o perdão ao ex-presidente, que foi tornado inelegível pelo TSE até 2030. O rumo do projeto será decidido com o destino de Bolsonaro e dos 33 que foram denunciados ao STF pela PGR. A questão aqui é a seguinte. Lembro que o meteórico crescimento do prestígio eleitoral de Bolsonaro, que o elegeu presidente em 2018, acabou sufocando e destruindo a direita democrática. Este prestígio, que foi demonstrado nas eleições de 2022 com a eleição de vários governadores, deputados federais e senadores, atualmente vem sendo corroído pela apuração da PF sobre o envolvimento de Bolsonaro nos atos golpistas e em outros crimes. Essa corrosão já foi suficiente para abrir espaço político para a direita democrática articular o seu candidato para as eleições presidenciais em 2026? Ainda é cedo para dizer. Mas se prosseguir na velocidade atual a degradação da imagem do ex-presidente, a possibilidade de rearticulação da direita democrática é real. Por hora, Bolsonaro bate na tecla de que irá concorrer. Caso não concorra, a ficha um para substituí-lo é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos, seu ex-ministro.
Tarcísio estava na manifestação em Copacabana e fez um discurso tentando se equilibrar entre a extrema direita e a direita democrática. Aqui é o seguinte. Caso o governador paulista seja candidato, a direita democrática irá apoiá-lo? Não, se tiver o seu candidato. O governador é a continuação do bolsonarismo, que tem o seu ponto alto nas imagens dos vídeos da tentativa de golpe em 8 de janeiro. Mais ainda, os bolsonaristas apoiam o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, que com sua política de “tarifaço” causou danos aos fabricantes de aço brasileiros e pode tornar o agronegócio a próxima vítima. Conversei com muitas pessoas sobre o destino da direita democrática. Há uma crença de que não deixarão passar a oportunidade de voltar à disputa política com uma cara própria. Quem será esta cara, vamos ter uma ideia com o andamento da denúncia da PGR no STF.