A parte mais dolorosa para a família da contadora Sandra Lovis Trentin, 48 anos, terminou na sexta-feira (25). Os peritos do Instituto Geral de Perícia (IGP) confirmaram, pela arcada dentária, que o corpo encontrado em uma cova rasa à beira BR-158, na divisa dos municípios de Palmeira das Missões e Condor, é de Sandra. Ela desapareceu há quase um ano, em 30 de janeiro de 2018, e a cova foi localizada ao acaso por um colono que trabalhava nas imediações. A família, os amigos e parentes, agora, finalmente, têm um corpo para enterrar.
Falei sobre o desaparecimento de Sandra em setembro de 2018. A história desse tipo de caso mostra que, sem um corpo, a possibilidade de as autoridades manterem na cadeia o suspeito é escassa. A outra parte desta história é o que irá acontecer daqui para frente.
Até agora a investigação policial andava em círculos em busca de uma pista concreta do destino da Sandra nos detalhes do seu desaparecimento. Naquele dia, de janeiro do ano passado, ela saiu de Boa Vista das Missões, pequena cidade agrícola no interior gaúcho, onde vivia com o marido, o vereador do PSDB Paulo Ivan Landfeldt, 48 anos, e os filhos, e percorreu 30 quilômetros até Palmeira das Missões, de onde nunca mais foi vista.
Paulo foi preso preventivamente em 23 de fevereiro de 2018 junto com Ismael Bonetto, 22 anos, um jovem da cidade de Vicente Dutra, pequeno município agrícola na barranca do Rio Uruguai. Pela investigação policial, o vereador teria contratado Bonetto para executar a contadora. Os dois negam a acusação. O marido foi posto em liberdade em 26 de junho, mas Bonetto continua preso.
Agora os investigadores têm um novo lugar para procurar pistas: a cova rasa. A localização dela, a uns 30 quilômetros do local onde a contadora desapareceu no centro de Palmeira das Missões, mostra que contadora não foi vítima de um assalto. A maneira de operar do assaltante quando mata a vítima normalmente é deixar o corpo no lugar e fugir. Portanto, tudo leva a crer que a contadora foi vítima de uma execução, pois neste tipo de crime o corpo é escondido.
Mais ainda: os policiais encontraram vestígios de um pó branco, uma substância química que teria sido jogada no cadáver para acelerar a decomposição. A velocidade da decomposição é determinada por fatores climáticos e do solo, mas existe a crença popular de que o cal virgem ajuda acelerar a decomposição. Pelo histórico policial de Bonetto, acredita-se que não é do perfil dele atentar para esse tipo de detalhe.
Alguém comprou a substância para ele e, se a polícia descobrir quem foi, tem uma prova robusta ligando o comprador ao crime. Há ainda mais um detalhe: até encontrar o corpo, o vereador estava conseguindo levar uma vida quase normal na comunidade de Boa Vista das Missões. Agora, as coisas mudam e a possibilidade de ele ser justiçado é real. O clima de indignação na cidade é grande, e a maneira que a polícia tem de evitar que o suspeito seja justiçado, para proteger provas e evitar a fuga dele é pedir a revogação da sua liberdade provisória.
Este é também o caso dos acusados pela morte do menino Bernardo Boldrini, 11 anos, em 2014, na cidade de Três Passos. O pai do garoto, o médico Leandro Boldrini, a madrasta e enfermeira Graciele Ugulini, e os cúmplices dos crimes, os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz, esperam julgamento na prisão. Um dos argumentos para mantê-los encarcerados é que as autoridades não teriam como garantir a segurança deles, as provas do caso e uma eventual fuga dos suspeitos. A indignação causada pelo crime foi enorme. Eu estava lá e fiz cobertura para o jornal Zero Hora na época – disponível na internet.
Toda esta história ainda está longe de terminar. E a atenção das outras famílias que vivem drama semelhante com a da contadora está voltada para o que irá acontecer. Como repórter, nós precisamos ficar atentos. A história ainda não terminou. Apenas mais uma parte dela foi elucidada.