Demissão de Pimenta é um tiro no mensageiro. Não resolverá o problema

Os problemas na assessoria de imprensa do governo federal existem há muito tempo Foto: Reprodução

Sempre que dá uma confusão no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, o primeiro nome lembrado pelas redações dos jornais para ser demitido é do ministro Paulo Pimenta, 59 anos, da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Desta vez não foi diferente. Assim que tomou corpo a informação de que serão trocados vários ministros, a ficha número foi Pimenta. A conversa agora é que ele será demitido assim que o presidente sair do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde se recupera de duas cirurgias para drenar uma hemorragia intracraniana, a primeira feita na madrugada de terça-feira (10) e a segunda, na manhã de quinta-feira (12). Pimenta voltaria para a Câmara dos Deputados, para ser líder do governo. Há vários nomes sendo especulados na imprensa para substituí-lo. O fato é o seguinte. Seja lá quem for o substituto, incluindo aí um gênio da comunicação social, ele não conseguirá descascar o abacaxi. Porque o problema da comunicação do governo não é quem ocupa o cargo de ministro. Mas o sistema governamental de comunicação, que é caótico. E a confusão aumentou com as novas tecnologias de comunicação, como as fábricas de fake news, que são usadas pela extrema direita contra governos democráticos. É sobre isso que vamos conversar.

Problemas com a comunicação não são exclusividade do governo Lula. O rolo vem de muito longe. O roteiro é o seguinte. Quem assume a Presidência da República coloca nos postos-chave da comunicação social jornalistas da sua confiança. Estes profissionais vão conviver com outros dois tipos de jornalista: o de carreira, como são chamados os concursados, e o terceirizado, geralmente jovens que recebem um salário de empresas contratadas pelo governo. Estes três profissionais vivem um conflito permanente, porque o governo não tem um plano de comunicação social. Nessa disputa entre eles, ganha quem gritar mais. O resultado é uma grande confusão. Vou citar uma das vítimas dessa situação, a que considero a mais importante. O repórter que faz a cobertura dos noticiários do dia a dia, que geralmente é jovem, mal pago e com uma carga de trabalho brutal, porque precisa produzir conteúdo (textos, fotos, vídeos e áudios) para todas as plataformas do jornal. Ele liga para a assessoria de imprensa do governo federal para pegar uma informação. Fala com um assessor da sua necessidade. O assessor conversa com um chefe de departamento sobre o pedido de entrevista. Para começo de conversa, ele não tem acesso direto à sala do chefe. Vai falar com a secretária e esperar a boa vontade do ocupante da sala em recebê-lo. Enquanto isso, na redação, o editor está buzinando nos ouvidos do repórter, exigindo que feche a matéria. No desespero, o repórter recorre à internet para procurar a informação que precisa. A possibilidade de que a informação que ele encontrar esteja defasada é muito grande. O que significa isso? Que a matéria irá reforçar, perante os leitores, a ideia de que o problema não foi resolvido. Aqui temos uma reflexão. Enquanto aquele que se senta na cadeira de presidente da República não se der conta de que a opinião pública é moldada pelos repórteres que fazem o noticiário diário, e que por isso ele precisa ter acesso à versão do governo sobre algum assunto de uma maneira rápida e rasteira, a confusão continuará.

Vou fazer um comentário que julgo necessário. O que estou citando na nossa conversa não ouvi falar ou li em algum relatório. É o testemunho de 40 anos na lida de repórter, convivendo com colegas de vários jornais nas coberturas de conflitos agrários, crime organizado nas fronteiras e migrações pelos quatro cantos do Brasil. Tenho compartilhado este conhecimento com colegas em palestras e outras conversas. Voltando a nossa conversa. A confusão nos serviços de comunicação social, como disse, não é exclusividade do governo brasileiro. Nos Estados Unidos, o presidente eleito Donald Trump (republicano), 78 anos, que assumirá o cargo em janeiro, prometeu vingança contra os jornalistas que denunciaram as falcatruas feitas por ele no seu primeiro mandato presidencial (2017 a 2021), entre elas a de ter incentivado a invasão do Capitólio por parte de seus seguidores, para impedir que o atual presidente, Joe Biden (democrata), 82 anos, tivesse sua vitória nas eleições de 2020 referendada pelo Congresso. Tratei do assunto no post de 29 de novembro Trump, o retorno à presidência dos Estados Unidos. Agora, trouxe os amigos. O presidente eleito adora chutar as canelas dos jornalistas. No Brasil, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, seguidor político de Trump, a imprensa também enfrentou uma barra pesada. Lembro que para a consolidação da sua volta à disputa política a extrema direita depende de desacreditar a imprensa tradicional. E está fazendo isso usando sua máquina de fake news.

Claro. Se o governo Lula fizesse um plano de comunicação social ajudaria a resolver as disputas internas entre os jornalistas que trabalham nas assessorias de imprensa governamentais e a consequência seria a facilitação do acesso às informações pelo repórter responsável pelo noticiário do dia a dia. Isso diminuiria significativamente o volume de fake news em circulação. Reconheço que é uma tarefa difícil de ser realizada pelo governo, porque seria como trocar o pneu de um carro em movimento. Mas alguma coisa precisa ser feita. Por quê? Nos dias atuais, as democracias do mundo estão sendo atacadas pela extrema direita, que montou um bem lubrificado e eficiente sistema para fabricar fake news. Demitindo o ministro Pimenta, Lula dá um tiro no mensageiro.

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