O ex-atacante do Grêmio e deputado estadual Mário Jardel não é um bandido do quilate do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, preso preventivamente pela Justiça Federal. Ele pode ser responsabilizado pelos crimes cometidos no exercício da vida parlamentar? Antes de decidir é necessário esclarecer se ele é uma pessoa sequelada pelo uso de drogas. Lembro que ser usuário não é crime no Brasil, é considerado doença.
Hoje, como se estivesse se esquivando com seus dribles dos zagueiros, Jardel tenta escapar do processo de cassação em andamento na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O cerco está se fechando, ele não conseguirá escapar da cassação.
Esta é a situação de Jardel. Não sou gremista. Sou colorado. Mas sou repórter e digo que cassá-lo sem esclarecer o seu vínculo com as droga é cometer uma injustiça, porque ele é uma vítima do sistema político brasileiro. Muito antes de se eleger deputado em 2014, Jardel admitiu, em um programa de TV, em 2008, que era usuário de cocaína. Sua ligação com as drogas era pública quando foi indicado para concorrer a deputado. Como repórter, aprendi uma coisa: ser drogado traz dois problemas. O primeiro são os danos na saúde. O segundo, mais grave, é que a droga, por ser ilegal, força o usuário a conviver com os fornecedores, que são bandidos. E essa convivência deixa sua marca.
A pergunta é pertinente. Ao indicar Jardel, seus padrinhos políticos não sabiam de seus problemas? Ou apostaram que, dando uma nova carreira para o ex-craque, estariam contribuindo para a sua recuperação?
Claro. Faltou acertar com Jardel. O cotidiano dele na Assembleia revelou o seu entendimento da situação: comportou-se como se tivesse sido contratado por um time que disputava um campeonato de várzea. Administrou o seu gabinete de maneira desastrada. Ninguém falou para ele. Mas, ao se eleger, ele passou a viver em um mundo diferente do vestiário, onde o craque é rei. Ele entrou no mundo dos cartolas, onde as aparências contam.