O prejuízo é incalculável. Nos últimos 40 anos, os brasileiros gastaram muito dinheiro, tempo e enfrentaram dificuldades para provar aos consumidores dos nossos produtos ao redor do mundo que o país respeitava o meio ambiente, em especial a Floresta Amazônica. A tal ponto que as leis ambientais brasileiras estão entre as mais perfeitas da Terra. Muita gente pagou com a vida. Conheci e trabalhei no caso de uma dessas vidas perdidas nos conflitos pelo meio ambiente: Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes. Às vésperas do Natal de 1988, ele foi alvejado e morto a tiros no pátio da sua casa, um modesto chalé em Xapuri (AC), por Darci Alves, que agiu a mando do pai, o fazendeiro Darly Alves e Silva. Chico Mendes chamou a atenção do mundo para a devastação da Floresta Amazônica. Assim como o agrônomo, pesquisador e ecologista José Lutzenberger (falecido 2002) alertou sobre o uso indiscriminado de venenos agrícolas no Brasil, em especial nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul.
O legado de Chico Mendes e Lutzenberger lançou as bases sobre as quais foram construídas as leis ambientais do Brasil. Nas viagens que fiz pelos confins do Mato Grosso, Pará, Amazonas, Rondônia e Roraima, realizando reportagens sobre conflitos de índios, garimpeiros e madeireiros, encontrei gente de vários cantos do mundo trabalhando ombro a ombro com os brasileiros na preservação do meio ambiente. Certa vez conheci um jovem casal de ingleses no interior do Acre, na fronteira com o Peru. Lembro-me que era uma noite muito quente e que ficamos bebendo cerveja e conversando sobre a visão deles a respeito do que estavam vivendo. Eu assisti e documentei em reportagens o nascimento do agronegócio no Brasil. Ao contrário da ideia geral de que consistem apenas de plantadores de grãos – soja e milho –, os pequenos e médios agricultores brasileiros produzem suínos, frangos, leite e muitos outros produtos. Por quê? Porque eles são os principais fornecedores de uma vasta rede de agroindústrias que geram alguns milhões de empregos pelo interior do país.
Todos os mercados consumidores de produtos de origem animal e vegetal que o Brasil tem hoje ao redor do mundo foram duramente conquistados. O grande diferencial dos nossos produtos era a grife que o país tinha de respeitar o meio ambiente. Já escrevi sobre isso. Em 31 de agosto do ano passado fiz o post “É conversa para boi dormir o decreto de Bolsonaro que proibiu queimadas por 60 dias?” Por que volto a escrever sobre isso? Ontem (24/01), em entrevista à Folha de São Paulo, o presidente do Banco Itaú Unibanco, Candido Bracher, falando sobre o que tinha visto e conversando durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, disse que a imagem do país perante os seus colegas é a de que “o Brasil não é um país ambientalmente correto”.
Isso é mais do que um recado. É a confirmação que segue a deterioração da imagem do Brasil que começou com o incêndio criminoso da Floresta Amazônica no ano passado. Na ocasião, grandes fundos de pensão alertaram o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido – RJ) sobre a intenção de não associar os seus investimentos ao que acontecia na Amazônia. Como se noticiou, em Davos a questão ambiental foi um dos assuntos principais entre os grandes investidores do mundo. Foi uma demonstração de ignorância sobre as questões ambientais a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a pobreza é a responsável pela depredação do meio ambiente. De uma maneira educada, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos (1993 a 2001) Al Gore explicou que Guedes simplificou exageradamente a sua manifestação. Ecologista, jornalista e político, Gore é autor do documentário “Uma Verdade Inconveniente”.
O governo Bolsonaro está brincando de roleta-russa com as questões ambientais do Brasil. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não é só um desinformado sobre sua pasta, ele é arrogante. Aqui, quero conversar com meus colegas em início da profissão. Os empresários que apoiaram a eleição de Bolsonaro sabem que o “bicho vai pegar” e vão perder mercados internacionais se não for feito nada para melhorar a imagem do Brasil em questões do meio ambiente. Tanto que o governo anunciou, na terça (21/01), o Conselho da Amazônia, que será dirigido pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Li, ouvi e vi tudo que se falou sobre o assunto, inclusive entrevistas de Mourão. Tem de esperar para ver no que irá dar. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o avanço dos madeireiros clandestinos e dos grileiros sobre a Floresta Amazônica vai continuar, porque eles se sentiram autorizados a fazer isso pelos conteúdos dos discursos e pronunciamentos do presidente. É só revisar o que Bolsonaro disse durante a campanha eleitoral e nos primeiros meses de mandado. Está tudo lá, eles levaram a sério. É simples assim.
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