O melhor professor para o repórter é a História. No dia 1º de setembro de 1939, há 81 anos, as tropas da Alemanha nazista invadiram a Polônia dando início à Segunda Guerra Mundial, um conflito que durou até 1945 e deixou um saldo de 85 milhões de mortos. E monumentos ao horror, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde foram executados 1,2 milhão dos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas. Todo esse horror ocorreu graças a uma máquina de propaganda criada pelos nazistas. Eles foram derrotados pelos Aliados. Mas os fundamentos da sua máquina publicitária ficaram intactos e foram aperfeiçoados pela tecnologia de comunicação atual. É sobre isso que vamos conversar hoje, um dia que esperamos que nunca mais se repita aquilo que aconteceu lá em 1º de setembro de 1939. Vamos aos fatos.
Assim que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu a Casa Branca (2017), graças aos votos dos racistas e totalitários, iniciou-se um intenso debate entre nós jornalistas, já que uma das metas dele é a destruição da imprensa tradicional. No Brasil, o debate ganhou corpo em 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que usou o mesmo receituário de Trump na campanha. Lembro de ter escrito, lido em trabalhados acadêmicos e ouvido de pensadores do jornalismo que os modelos de análise que usávamos para explicar ao leitor o governo Bolsonaro não se encaixavam na realidade do dia a dia.
Um exemplo dessa situação. A paixão de Bolsonaro por torturadores de presos políticos do Golpe Militar (1964 a 1985). Fez disso uma bandeira porque é capitão da reserva do Exército e direitista, como escrevemos ? Não, porque descobriu que era uma maneira de ganhar espaço nos noticiários. Várias vezes ameaçou trocar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Cumpriu alguma das ameaças? Não, porque seria um golpe de Estado. Mas ganhou generosos espaços nos noticiários. Mas o que acontecia enquanto nós repórteres éramos atraídos pela exuberância das coisas ditas pelo presidente? As pessoas ao redor dele, a quem chamamos de Gabinete do Ódio, faziam o serviço sujo tentando corroer as instituições. Antes de seguir contando a história, vou falar de tecnologia da comunicação. Onde nasceu esse tipo de estratégia de comunicação usada por Trump e reinventada pelos estrategistas de Bolsonoro? A resposta é simples e direta.
Nasceu na Alemanha nos anos 30. Voltando a contar a história. E foi usada pelos nazistas para vender as suas ideias. A maneira como os conteúdos eram ordenados dentro dos discursos é muito semelhante ao que é feito nos dias atuais. É fundamental que os jovens repórteres assistam a documentários sobre o assunto, como Hitler’s Circle of Evil (Círculo do Mal), que conta a história do grupo de pessoas ao redor de Adolf Hitler. Há um livro que também merece ser lido, de Walter C. Lancer: A mente de Adolf Hitler – O relatório secreto que investigou a psique do líder da Alemanha nazista. A maneira como as imagens e os textos dos filmes publicitários do regime nazista foram apresentadas ao mundo pelo ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, estão presentes, por exemplo, na maneira como Trump tenta convencer os americanos da validade da construção de um muro separando os Estados Unidos do México. Ou como o governo Bolsonaro tenta convencer o mundo de que a Floresta Amazônica não está sendo queimada e destruída por garimpeiros, grileiros e madeireiros ilegais.
Evidentemente que nem Trump, muito menos Bolsonaro, irão arrastar o mundo para o horror de 1º de setembro de 1939. Também não são nazistas, muito embora seja apoiados por eles. O fato é que estão usando a máquina de publicidade dos nazistas, recauchutada com as tecnologias de comunicação modernas. O que nós repórteres temos que explicar ao nosso leitor é que muitos atos violentos que estamos vendo nos noticiários das TVs são incentivados por esse tipo de publicidade. A maneira como nós repórteres podemos contribuir para que a disputa política aconteça dentro da legalidade é explicando como funciona a máquina de propaganda dos envolvidos no páreo. Como tenho dito. Não é preciso anexar uma tese de doutorado à matéria. Basta contextualizá-la. O que podemos fazer em uma ou duas frases. Na guerra, os Aliados montaram uma fantástica máquina publicitária para mostrar ao mundo quem eram os nazistas. Mas é uma outra história.