Uma notícia relevante para os leitores, ouvintes e telespectadores do Brasil. A imprensa deu um atestado de maturidade durante a cobertura do fim de semana do presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ). Os repórteres e vários comentaristas políticos conseguiram manter o foco no que interessa para os leitores, que é a questão da emergência sanitária que o país enfrenta na luta contra a expansão do coronavírus – que até o final da manhã desta segunda-feira (20/4) já havia infectado 2,4 milhões de pessoas no mundo e matado 167 mil, com 38,6 mil casos e 2,4 mil mortos no Brasil. A única maneira encontrada para lidar com essa doença e controlar a expansão do vírus é o isolamento social – Fica em Casa –, que nada mais é do que ganhar tempo para preparar a estrutura hospitalar caso aconteça uma avalanche de doentes. Quem ignorou o isolamento social pagou um alto preço, como foi o caso da Itália, da Espanha e de Nova York, nos Estados Unidos. Bolsonaro desafiou essa estratégia ao substituir o então ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento, pelo oncologista Nelson Teich, que assumiu na sexta-feira (17/04). O que Teich irá fazer a respeito do isolamento?
Antes de responder à pergunta. No último fim de semana (17 a 19/04) pipocaram passeatas pelas cidades do Brasil pedindo o fim do isolamento social e a abertura do comércio. Em Porto Alegre (RS) houve uma carreata no sábado pela manhã. A maioria reuniu pequenos e barulhentos grupos. Domingo pela manhã, a CNN do Brasil noticiou que o presidente havia se deslocado até o prédio onde mora um dos filhos, Eduardo, deputado federal por São Paulo. Dois outros filhos do presidente, Carlos, vereador do Rio, e Flávio, senador do Rio de Janeiro, participaram do encontro. No final da tarde, o presidente foi até em frente ao Quartel-General do Exército e, em cima da carroceria de uma caminhonete, discursou para um grupo que defendia com palavras e faixas um golpe militar. O que aconteceu nas redações depois desse evento foi a lógica. Foi a primeira vez depois de democratização do país (1985) que um presidente eleito pelo voto popular participou de uma manifestação de apoio à volta da ditadura. Não tinha como não ser a manchete principal dos noticiários e capa dos jornais de papel. Claro, todas as autoridades, da esquerda até a direita, se posicionaram contra a manifestação e criticaram duramente o presidente.
Em outros tempos, hoje teríamos dois assuntos importantes nos noticiários: a participação do presidente no ato em favor da volta da ditadura militar. E a questão da emergência sanitária. Claro, Bolsonaro está ligado aos dois assuntos. Mas eles seriam tratados de maneira separada. Esse tipo de estratégia tem a marca do “Gabinete do Ódio”, como foi apelido um grupo de pessoas íntimas do presidente que têm ao seu dispor uma “máquina de distorcer a verdade”, que trabalha pela manutenção da família Bolsonaro no poder. A estratégia de desviar a atenção não funcionou por dois motivos: o primeiro é que a possibilidade de um golpe de estado é mínima. Em 1964, o Brasil era um país rural, e hoje é industrial. E se acontecesse seria um banho de sangue, porque a sociedade organizada iria para o enfrentamento com as tropas nas ruas, entre outras consequências. E o segundo motivo é que a emergência médica é um assunto de uma grandiosidade jamais vista.
Agora, respondendo à pergunta que fiz lá em cima, sobre o novo ministro. Se a troca no Ministério da Saúde significar o fim do isolamento social e houver uma expansão do vírus e a consequente exaustão do sistema hospitalar, o país vira um caos e o presidente será acusado de genocida. Será o fim das ambições políticas da família Bolsonaro. No dia seguinte à presença do presidente no ato em favor da volta da ditadura militar o conteúdo dos noticiários continua focado na questão do coronavírus. O fato é o seguinte: em nome das ambições políticas da sua família, o presidente da República colocou em risco a saúde dos brasileiros, povo que jurou defender quando assumiu o cargo. É simples assim.