Baseado nos fatos de hoje (06/08), a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não vai acontecer. As pesquisas de intenção de votos mostram que ele será derrotado nas urnas. E, além da derrota, deverá sair do governo com o carimbo de genocida devido aos estragos causados pelo seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade da Covid-19, que já matou mais de 550 mil brasileiros e provocou um caos no Ministério da Saúde como jamais foi visto, resultando em episódios como a falta de oxigênio hospitalar nos hospitais de Manaus (AM) e no interior do Pará. Toda essa situação vem sendo mostrada ao público pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19, a CPI da Covid. Essa situação não estava nos planos de Bolsonaro. O presidente prefere descer a rampa do Palácio do Planalto algemado ou sofrer uma ação de impeachment do que ser derrotado nas eleições e passar a faixa presidencial para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), ou a qualquer outro. Por quê? É sobre isso que vamos conversar.
A minha resposta à pergunta não é opinião. Mas lastreada em fatos que temos publicado desde o dia que o presidente deu início ao seu mandato. Vamos à resposta. Por um somatório de situações, Bolsonaro se elegeu presidente com 56 milhões de votos e uns quebrados. Elegeu governadores, parlamentares e deu visibilidade para grupos políticos até então marginalizados pela imprensa, como nazistas, terraplanistas, ocultistas, simpatizantes da Ku Klux Klan, militares saudosistas do golpe de 1964 e alguns neoliberais marginalizados pelo mercado. Dentro da lógica dos bolsonaristas, se o presidente terminar o seu mandato preso ou sofrer uma ação de impeachment, eles terão um mártir que vai assegurar a união dos grupos por um longo tempo. E inclusive gerar um capital político que poderá influenciar no futuro político dos seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Se o presidente for derrotado nas urnas e admitir a derrota, passando a faixa presidencial para o seu sucessor, ele e os seus filhos vão ter o seu futuro político comprometido e acontecerá um rompimento do frágil elo que une todos esses grupos políticos nos dias atuais.
Meus colegas, Bolsonaro teve uma vida parlamentar de três décadas discreta. Hoje ele vive uma situação que jamais havia imaginado. Tem o melhor emprego do Brasil, presidente da República. E tornou-se líder de grupos que se chamam de “bolsonaristas”. Não estava nos seus planos ser encurralado pela CPI da Covid, que pode colar nele o carimbo de genocida. Muito menos a recusa das Forças Armadas em apoiar um golpe de Estado. Para sobreviver dentro dessa realidade ele tornou-se “uma granada sem pino” – expressão popular que significa uma situação explosiva. O cavalo de batalha do presidente da República é tentar desestabilizar o sistema eleitoral brasileiro colocando sob suspeita as urnas eletrônicas. Elegeu como símbolo dessa luta o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). A luta de Bolsonaro contra Barroso não é no campo político: é uma briga de boteco. O linguajar usado pelo presidente é vulgar e as informações que coloca no debate são falsas. Claro, há uma reação dos ministros do STF com essa situação. Como essa briga acabará? Ninguém sabe. O que temos de concreto é a inclusão do nome do presidente em vários inquéritos em andamento, como o das fake news. Aqui vou fazer um comentário que julgo relevante. Logo que comecei a trabalhar como repórter, em 1979, aprendi com os colegas repórteres da editoria de polícia que sempre que um delegado quer colocar as mãos em um suspeito ele começa a incluir o nome dele em todos os inquéritos possíveis. Ao final de um tempo, ele estará envolvido em tantas investigações que acabará preso. Hoje Bolsonaro não tem opção a não ser espernear e atacar, porque o seu nome está sendo citado em várias investigações, incluindo a da CPI da Covid. Até ser eleito presidente, ele se envolveu em vários casos que resultaram em investigações que acabaram em nada. Ou simplesmente foram esquecidas. Agora a conversa é outra, ele é presidente da República.
Nós jornalistas temos chamado de conflito entre os poderes as baixarias ditas pelo presidente contra o ministro Barroso. Se a turma do “deixa disso” resolver o caso, Bolsonaro vai encontrar outro rolo, porque precisa de uma desculpa para virar mártir dos bolsonaristas quando for derrotado nas urnas, segundo as previsões atuais. O presidente só vai parar de armar rolo quando tiver certeza que será reeleito. Ele não deixará de fazer rolo porque em eleição não existe a certeza ser eleito, mesmo para os favoritos nas pesquisas. Eleitores têm a mania de trocar de voto de um dia para o outro. A única certeza que temos nas eleições do Brasil é que o nosso sistema eleitoral é confiável – urnas eletrônicas, Justiça Eleitoral e etc.