Imprensa pode anotar. Efeito Trump entre os imigrantes é uma “tragédia anunciada”

Por ser os Estados Unidos uma potência, nas ruas das cidades americanas há estrangeiros ilegais de todos os cantos do mundo Foto: EBC

A história do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, com os imigrantes ilegais não vai acabar bem. No seu primeiro mandato, 2017 a 2021, ele já disparava desaforos contra os ilegais. Na época, durante a campanha eleitoral, prometeu mandar embora os imigrantes não legalizados e dificultar o acesso deles ao país construindo um muro de 819 quilômetros na fronteira com o México. A fronteira entre os dois países tem 3,1 mil quilômetros de extensão, sendo que ao longo de 1,1 mil quilômetros há um sistema de proteção formado por um muro e áreas vigiadas por satélites e outros dispositivos eletrônicos. Trump construiu 60% do havia prometido. E a maior parte dessa construção foram reformas no muro que já existia. Então é o seguinte. A bronca de Trump com os ilegais no seu primeiro mandato é simbolizada pelo tal muro na fronteira mexicana. Agora, no segundo mandato, a conversa é outra. Ele convocou para ser secretários (ministros) do seu governo só gente de sua absoluta confiança, a maioria figuras de destaque da extrema direita – há uma abundância de matérias disponíveis na internet.

A cereja do bolo do mandato atual é a aliança de Trump com o bilionário Elon Musk, 53 anos, dono do X, antigo Twitter, e com o magnata Mark Zuckerberg, 40 anos, dona da Meta, proprietária das redes sociais Facebook, Instagram e WhatsApp. Tratei deste assunto no post publicado na terça-feira (14), Imprensa precisa esmiuçar o significado da adesão de Zuckerberg ao trumpismo. Na ocasião, alertei que essa aliança deu ao presidente americano um tremendo poder para espalhar as suas mentiras pelos quatro cantos do planeta. De todas as promessas que fez durante a campanha, a expulsão dos ilegais perfila-se entre as que mais mobilizam a opinião pública. Aqui é o seguinte. O presidente dos Estados Unidos tem o direito e o dever de localizar os imigrantes ilegais e expulsá-lo do país seguindo os trâmites estabelecidos em lei. Como vinha sendo feito pelo seu antecessor, Joe Biden (democrata), 82 anos. Trump, porém, comente um crime ao demonizar os ilegais para justificar o descumprimento das leis. Ele tentou seguir por este caminho no seu primeiro mandato. Acabou sendo atrapalhado pela pandemia de Covid-19, que em 21 de janeiro de 2020 instalou-se nos Estados Unidos. E, a exemplo do que aconteceu no resto do mundo, mudou completamente o dia a dia do país. O negacionismo em relação à letalidade e ao poder de contágio do vírus por parte de Trump é apontado por autoridades sanitárias como um dos responsáveis pela morte de mais de 1 milhão de americanos – matérias na internet.

A pandemia acabou em 2021 e, nos dias atuais, a máquina de demonizar os ilegais funciona a todo o vapor. Precisa ser lembrado que a história de demonizar um grupo de pessoas para controlar a opinião pública e torná-la cúmplice das atrocidades cometidas pelo governo não foi inventada por Trump. Ela vem de longe e o seu período de ouro foi na década de 1930, na Alemanha nazista do Adolf Hitler (1889 – 1945). O então ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels (1897–1945), conseguiu convencer a população alemã que os responsáveis pelos seus problemas eram os judeus, os ciganos e outras minorias. Foi assim que nasceu o Holocausto. Atualmente, graças a sua eficiência na arte de esculachar os seus inimigos, o bilionário Musk, que chefia o recém-criado Departamento de Eficiência do Governo (Doge), é um dos pilares da estratégia de demonização dos ilegais. Ele é ligado ao “Reich do Silício”, como foi chamado um grupo de empresários ligados às teses da extrema direita pelo jornalista Corey Pein, no site The Baffler, em 2014. Nos dias atuais, a definição dada pelo jornalista é utilizada por cientistas sociais para denominar a existência deste grupo de empresários. Reich é uma palavra alemã que significa império ou reino e foi usada pelos nazistas para legitimar o seu poder. É necessário lembrar que durante a campanha pela presidência dos Estados Unidos, em 2024, Trump elegeu como alvos principais a disputa econômica com a China, os acordos ambientais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e os imigrantes ilegais. O mais frágil desses alvos são os ilegais. Na sexta-feira (24), chegou a Manaus (AM) o primeiro voo com 88 brasileiros deportados. Os brasileiros denunciaram terem sofrido agressões dos guardas americanos durante a viagem. O caso tornou-se um incidente diplomático entre os dois países. Na sexta-feira (24), o governo da Colômbia proibiu o pouso de aeronaves americanas com deportados no seu território. Trump retaliou aumentando as taxas de importação de produtos da Colômbia e impôs outras sanções. Na noite de domingo (25), os governos da Colômbia e Estados Unidos negociaram, foi autorizado o pouso no território colombiano de aviões militares americanos com deportados e Trump retirou a taxação das importações as demais restrições. Entre os 46 decretos assinados por Trump durante a posse, um deles revoga a cidadania americana para filhos de imigrantes ilegais nascidos nos Estados Unidos. Governadores de 18 estados americanos entraram na Justiça contra o decreto, alegando que fere a 14ª Emenda da Constituição.

Pelo fato dos Estados Unidos serem a maior potência militar e econômica do mundo, existem imigrantes ilegais de todos os cantos do planeta nas cidades americanas. Pela proximidade geográfica, a maioria são sul-americanos. Os brasileiros representam um minoria de 2% dos ilegais. A maior parte são mexicanos, em torno de 25%. Estes números são estimativas. Até agora, as lambanças do presidente americano com os imigrantes ilegais têm sido a principal manchete nos noticiários ao redor do mundo. Disse na abertura da nossa conversa que a demonização dos imigrantes ilegais por Trump não vai acabar bem. Nos meus primeiros dias de redação de jornal, lá em 1979, ouvi de um colega veterano uma frase que já era surrada na época, mas que é uma grande verdade: “O problema de um governo autoritário é o guarda da esquina”. Aquela pessoa que acredita nas acusações sem provas contra os ilegais e sai atirando, achando estar fazendo uma grande coisa. Já vi acontecer e fiz matérias. É uma tragédia anunciada. Podem anotar.

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