No Brasil e no mundo sempre aconteceu. Mas agora se transformou em um grande negócio e uma maneira de fazer política: a manipulação da informação. A história ensina que é em momentos como esse que a imprensa é fundamental para o seu leitor. Justamente agora que um dos esteios do jornalismo brasileiro vive um dos seus piores momentos: o repórter dos noticiários diários dos jornais (papel), sites, rádios e TVs, que nos dias atuais convive com o excesso de trabalho, o salário baixo e a ameaça constante do desemprego. Isso o tornou uma presa fácil dos manipuladores de informações que fazem parte do núcleo ideológico do governo do presidente da República Jair Bolsonaro (RJ – sem partido). O atual governo é o primeiro na história do Brasil que tem um bem organizado e atuante sistema de coleta de informações e distribuição de notícias moldadas para distorcer os fatos. É uma cópia perfeita do que elegeu e sustenta no poder o presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Eles não são amadores, mas profissionais altamente qualificados na arte de nos enrolar.
É isso. Mas a vida do repórter dos noticiários diários nunca foi fácil, tanto que ele é conhecido nas redações como “carregador de piano”. Mas agora estão exagerando no tamanho do piano. A grande quantidade de informações que circulam diariamente e influenciam a opinião pública não saem das mãos de repórteres especiais ou dos colunistas de economia, política e esportes. Saem das mãos do repórter do noticiário diário. Se ele afundar, todos nós afundamos juntos. Eu já bati nessa tecla. Mas, por ter sido provocado por uns jovens colegas em início de carreira, vou bater novamente. Não faz muito tempo, funcionava assim: nos jornais (papel), havia um repórter que fazia o texto e outro, as fotos. Nas rádios, um profissional se encarregava do áudio e nas TVs, um cinegrafista empunhava a câmera para produzir as imagens e um operador de vídeo as registrava em um gravador. Com o surgimento de novas tecnologias, como o aperfeiçoamento dos celulares, somando-se a crise das empresas de comunicação provocada pela fuga de anunciantes e assinantes, as redações se unificaram e jogaram no colo de um único repórter a tarefa de escrever, gravar áudio e coletar imagens.
Chamo isso de “aumentaram o tamanho do piano”. Esse repórter também é conhecido como “do dia-a-dia”. Os pensadores e organizadores de métodos de venderem “gato por lebre” há muito tempo já detectaram a sua fragilidade e também que é ele quem fornece a grande massa de informações que circula nos noticiários. Parte desse assunto tem sido tratada pelo documentarista e cineasta americano Michael Moore. Ele produziu vários documentários sobre a eleição de Trump, um deles é Fahrenheit 11/9. Moore é o mestre dos documentaristas. Há uma variedade enorme de artigos sobre o sistema de manipulação de informações que acabou elegendo Trump e na rabeira, Bolsonaro. Um deles é o do professor Rodrigo Nunes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), chamado “Faltou a Alvim a arte de seus colegas de governo”, publicado no caderno Ilustríssima, da Folha, em 26/01. É bem interessante o artigo. O citado no título é Roberto Alvim, ex-secretário nacional da Cultura, demitido após publicar um vídeo em que aparece travestido de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista. Em 21/01 fiz o post “Bolsonaro viu antes de ser publicado o vídeo nazista do ex-secretário?” Defendo que quem manda na Cultura é o presidente Bolsonaro e a sua família. Não é uma opinião. São fatos que me foram relatados por minhas fontes. Se a nova secretária da Cultura, a atriz Regina Duarte, não rezar pela cartilha da família Bolsonaro, ela já era. Podem anotar.
Para arrematar a conversa, vou citar dois exemplos. O mais recente é do ex-secretário Alvim. Uma pesquisa em tudo que publicamos encontramos que a linha dorsal dos conteúdos foi a ligação da conversa dele com as coisas defendida por Goebbels. Por que todo mundo tem na mente a imagem dos crimes horrendos praticados nos campos de concentração. Goebbels fez muito mais coisas na Alemanha. Destruiu qualquer manifestação cultural que não estivese alinhada com o governo. Era a proposto do ex-secretário. Sempre escrevi que Bolsonaro ganhou espaço na mídia quando era um parlamentar do baixo clero defendo teses exóticas, como apoio aos torturadores dos governos militares. Eu estava errado. Ele está acima dos torturadores. Ele joga com a imagem que temos na mente das pessoas sendo demolidas pelos torturadores. Lembram o ataque que ele fez ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz? Ele disse que poderia dizer a ele o que tinha acontecido com o pai, Fernando Santa Cruz, militante da Ação Popular (AP) que foi preso durante o Regime Militar e nunca mais apareceu. Não foi só crueldade. Foi uma maneira de ganhar espaço na mídia. Eu pergunto: como é que um repórter que está com um monte de pautas na mão, com uma fila enorme de colegas querendo o seu emprego e ganhando um salário que não paga a cerveja na mesa do boteco, vai conseguir tempo para apurar uma notícia que parece simples, mas é uma armadilha. Não separa, publica como vem.
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