Baixada a poeira das manifestações de apoio à Operação Lava Jato no fim de semana, é a hora de o repórter olhar com profundidade o que aconteceu. O movimento não teve como alvo principal proteger o trabalho do juiz federal Sérgio Moro e a força-tarefa que conduz as investigações. Até porque a operação avança de maneira muito sólida. O que nós vimos foi um teste para saber a eficiência do uso da Lava Jato como ferramenta de propaganda política de massa nas eleições de 2018.
O experimento começou a ser montado há uns dois meses. Por estar envolvido na busca de informações sobre as mudanças no cotidiano das redações, eu estou lendo, ouvindo e vendo tudo o que é publicado sobre os grandes assuntos nacionais do momento. E, nos últimos dois meses, tenho observado uma frase sendo publicada e falada aqui e ali, principalmente entre os comentaristas políticos:
– Onde estão as pessoas que batiam panelas nas ruas?
Elas apareceram, sem as panelas, no fim de semana. A pergunta aqui é: como essa frase foi parar no nosso meio? Como repórter, eu lembro o seguinte: nós somos muito vulneráveis a uma frase que sintetize ou questione um episódio. E elas são soltas nas mesas dos botecos, nos cafés e em outros locais que frequentamos. Nos meus 40 anos de repórter investigativo, boa parte deles foi fazendo cobertura de conflitos agrários nos sertões do Brasil. E não foi uma ou duas vezes. Mas, muitos vezes que estava sentado em um boteco com os colegas, depois da enviar a matéria para redação, do nada, na mesa ao lado, pessoas começavam a falar frases do nosso interesse. Muitas delas acabaram nas páginas dos jornais. E, depois que o jornal publica, a frase interessante vira um fato.
Essa técnica de infiltrar informações entre os jornalistas nasceu na Guerra Fria e foi muito usada contra os movimentos sociais nos anos 1980. Hoje, é muito usada para testar modelos de publicidade pelos marqueteiros políticos. Há uma conversa forte entre eles sobre a possibilidade de haver uma polarização na campanha presidencial entre o ex-presidente Lula e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC – RJ). Se o Lula se mantiver como um candidato forte, seja Bolsonaro ou qualquer outro seu adversário, o certo é que os conteúdos da Lava Jato serão usados como projéteis contra a candidatura do ex-presidente.
Entre os marqueteiros políticos, hoje a Lava Jato é um produto que está sendo testado para calibrar o discurso dos clientes durante a campanha de 2018. Nós, os repórteres, temos que ficar atentos para saber separar a Lava Jato do juiz Moro e dos marqueteiros políticos. Não podemos dar uma de papagaio e sair por aí repetindo as bobagens do marketing político. Lembrar que uma pessoa está sendo investigada é uma coisa. Acusá-la de um crime sem condenação é outra coisa.