Os repórteres mais velhos conhecem a história. E entender o que aconteceu é uma boa escola para os jovens repórteres conseguirem entender o que acontece na conjuntura política nacional e o que representa a Operação Lava Jato. Senhores, apresento o deputado federal Paulo Salim Maluf (PP – SP), o homem que inventou a corrupção no Brasil. Na cultura política brasileira, dizer que alguém é malufista é o mesmo que acusar de político corrupto. Inclusive há o verbo malufar.
A carreira de Maluf é uma parte importante da história brasileira. Parte disso pode ser encontrado em https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Maluf. Na semana passada, ele foi condenado por corrupção a sete anos de cadeia pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Não irá cumprir a pena devido a sua idade, 81 anos.
Vamos falar sobre o que não está escrito sobre Maluf, reside dentro da cabeça dos repórteres velhos e que, por muitos anos, foi assunto de mesa de boteco. Filho de família paulista rica, formado em engenharia civil, ele começou a engatinhar na vida política aos 23 anos, na conturbada década de 50, marcada pelos confrontos entre o então presidente da República, o gaúcho Getúlio Vargas, considerado um reformista, e os conservadores que tinham como ícone Carlos Lacerda, jornalista e político. Mas foi aos 32 anos que ele apertou a mão do homem que iria abrir as portas da política nacional para ele: o economista Delfim Netto , que se tornaria um dos esteios da politica econômica do Regime Militar (1964 a 1985).
Durante o Regime Militar, Delfim Netto não pedia. Ele mandava fazer. Na época, os ocupantes de cargos de prefeitos e governadores eram nomeados pelo governo federal. Maluf era administrador arrojado, o homem das grandes obras e que sabia falar com a imprensa – que sofria uma ferrenha censura. Foi na década de 70 quando ouvi pela primeira vez a associação do nome de Maluf à corrupção. Anos depois, eu vim a descobrir que ele não era figura do agrado do então general Golbery do Couto e Silva, ideólogo da doutrina de segurança nacional e o homem que reinventou os serviços de inteligência das Forças Armadas. O general faleceu em 1987 e levou para o túmulo a história não contada do Regime Militar, incluindo as vezes em que pediu a cabeça de Maluf para seus superiores. Lembro que, no final dos anos 80, estive em Brasília conversando com o general Danilo Venturini, que havia sido o grande nome na política agrária do Regime Militar. Homem, educado, inteligente e articulado, falamos durante umas quatro horas sobre conflitos agrários na América do Sul. Eu estava buscando informações com o general para publicar uma terceira edição do meu livro A Saga do João Sem Terra, que contava a história de um líder camponês gaúcho. A certa altura da conversa, eu desviei o assunto e pedi ao general a sua opinião sobre o Maluf. Ele, de maneira educada, não respondeu a pergunta e, minutos depois, alegando um compromisso, deu por encerrada a conversa. Em 2010, eu estava fazendo o livro Os Infiltrados – Eles Eram os Olhos e os Ouvidos da Ditadura, em parceria com os meus colegas repórteres Carlos Etchichury, Humberto Trezzi e Nilson Mariano e fui ao Rio de Janeiro entrevistar o general Newton Cruz, homem forte do Regime Militar e da chamada comunidade de informações. Falamos sobre os bastidores do regime durante umas sete horas. Em certa altura da conversa, perguntei sobre Maluf. Ele disse duas palavras e mudou de assunto:
– Sem-vergonha.
O fato é o seguinte: Maluf é político astuto, inteligente e articulado. Ele sempre caminhou em terreno minado, sendo alvejado pelo fogo amigo, no caso dos generais que não simpatizavam com ele. Ou no fogo cruzado entre apoiadores e opositores do Regime Militar. Espalhou-se uma máxima sobre ele:
– O Maluf rouba. Mas faz.
No dia seguinte ao qual a delação premiada para a Lava Jato de Joesley Batista, um dos donos do JBS, encurralou o presidente da República, Michel Temer (PMDB – RS), circulou nas redes socais uma foto do Maluf, com os seguintes dizeres dirigidos a Temer:
– Amador.
Separar a ficção da verdade sobre a história do Maluf é fundamental para os repórteres entenderem o pano de fundo das raízes da corrupção no Brasil. Maluf tem uma história inédita para contar.
