Musk trata os Estados Unidos como se fosse uma República de Bananas

Bolsonaro aposta na eleição de Trump para derrubar a sua inelegibilidade Foto: Reprodução

Se alguém me falasse, eu não acreditaria. Para confirmar que estava realmente acontecendo, precisei ver, assistir, ler e ouvir a história do bilionário Elon Musk, 53 anos. Ele está investindo na compra de votos para eleger, no próximo dia 5 de novembro, o republicano Donald Trump, 78 anos, presidente dos Estados Unidos. Trump disputa o cargo com a democrata Kamala Harris, 60 anos, vice do atual presidente Joe Biden, 81. Há um empate técnico entre os dois candidatos. O esquema montado por Musk é simples. Está sorteando diariamente 1 milhão de dólares (R$ 5 milhões) entre as pessoas que, a pretexto de defender os artigos 1º e 2º da Constituição americana (que garantem, respectivamente, a liberdade de imprensa e de expressão e a posse de armas), assinarem uma petição online favorável a Trump. Para concorrer ao prêmio, é preciso ser eleitor registrado (apto para votar) em um dos estados pêndulos, como são chamados aqueles que oscilam entre democratas e republicanos: Pensilvânia, Geórgia, Nevada, Arizona, Michigan, Wisconsin e Carolina do Norte. A “promoção” seguirá até a próxima segunda-feira, quando se encerra o prazo para que os americanos se registrem para votar nestas eleições. Há um farto material nos noticiários sobre o esquema de Musk, que é descrito por advogados e autoridades americanas como compra de votos. Portanto, ilegal.

Não vou discutir a legalidade ou ilegalidade do esquema de Musk por entender que é um assunto para a imprensa diária. Mas vou conversar sobre um lado que está passando batido pelos colegas repórteres, que é a afronta que a prática da compra de votos por parte do bilionário faz à democracia americana, uma das mais antigas do mundo. Essa história de Musk compara os Estados Unidos a uma “República de Bananas”, termo utilizado por jornalistas, nos anos 60, para designar pequenos países latino-americanos corruptos e submissos às grandes fortunas internacionais. A expressão foi forjada no auge da Guerra Fria (1947 a 1991), a disputa ideológica, econômica e militar entre os capitalistas Estados Unidos e a comunista União Soviética. Nos dias atuais, as redações a utilizam como sinônimo de país bagunçado. Musk já fez muitas coisas esquisitas. Como a recente briga que teve com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, 55 anos, que resultou na proibição da operação no Brasil da rede social X, antigo Twitter, entre agosto e o início de outubro. A rede só voltou depois que todas as exigências do STF foram cumpridas – matérias na internet. Musk blefou e não levou.

Trump se comprometeu publicamente a dar um cargo importante a Musk no seu governo, caso seja eleito. O que significa que ele não se importou em assistir ao desaforo feito pelo bilionário às instituições americanas com a compra de votos. Existe um temor nas entrelinhas dos comentaristas políticos da imprensa dos Estados Unidos. Caso Kamala ganhe as eleições e Trump não aceite a derrota ele poderia armar um rolo semelhante ao que fez em 2020, quando perdeu a reeleição para Biden? Em 6 de janeiro de 2021, Trump incentivou os seus seguidores a invadirem o Capitólio para impedir que o Congresso americano ratificasse a vitória do democrata. A invasão resultou em cinco mortes, vários feridos e dezenas de presos. Isso pode se repetir no caso de uma derrota de Trump? É difícil dizer, porque muita coisa mudou na política americana. Uma delas é que a extrema direita dos Estados Unidos nunca esteve tão organizada como na atualidade. Seus integrantes são especialistas em agir em situações complicadas.

Para arrematar a nossa conversa. O que vai acontecer nas eleições presidenciais dos Estados Unidos deverá se refletir na disputa presidencial do Brasil em 2026. Uma noite dessas estava assistindo a um pronunciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, sobre o seu destino político. Ele dizia que ia disputar a Presidência da República em 2026, alegando que a sua inelegibilidade, decretada até 2030 pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE), era uma bobagem. Não é bobagem, até as pedras dos calçamentos das ruas sabem disto. Mas por que motivo Bolsonaro vem repetindo essa versão? Só para manter a militância mobilizada? Ou para afugentar os seus concorrentes dentro da extrema direita que tentam ocupar o lugar dele, como o ex-candidato a prefeito de São Paulo e ex-coach Pablo Marçal (PRTB), 37 anos, que publicamente tem pregado que irá substituí-lo na liderança do bolsonarismo. Além de Marçal, o comando do bolsonarismo é cobiçado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, filiado ao Republicanos. Embora os dois devam favores ao ex-presidente, em especial o governador, que foi eleito graças ao prestígio de Bolsonaro, tudo que Marçal e Tarcísio jamais farão é facilitar a permanência de Bolsonaro à frente da extrema direita.

Então resta o seguinte. Bolsonaro espera que um milagre derrube a sua inelegibilidade? Mesmo que o pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, venha tentando ensinar ao ex-presidente que a oração pode ajudar, Bolsonaro é um cara esperto e deve ter na manga uma carta nova no jogo eleitoral. Esta carta pode ser Musk fazendo parte do governo Trump, caso ele ganhe? Quem sabe o que a extrema direita brasileira e a americana andam combinando nas sobras da disputa política? Para Trump, o caso de Bolsonaro é um grão de areia na praia diante da imensidão de problemas que terá pela frente caso seja eleito. Para Musk é diferente. É uma oportunidade de incomodar a Justiça do Brasil.

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