O apoio de Bolsonaro tirou voto do presidente argentino Macri

Quantos votos Macri perdeu por ter colocado o boné da seleção brasileira? Foto: EBC

Por uma série de motivos, mas por três em particular, o apoio político do presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL – RJ), ao seu colega argentino Maurício Macri foi um tiro que saiu pela culatra, como diz o dito popular para definir uma situação que saiu ao contrário. O apoio acabou tirando votos de Macri na disputa das eleições prévias (uma amostragem)   na Argentina, vencidas por Alberto Fernández  com a sua vice a senador Cristina Kirchner (presidente do país 2007 a 2015). O primeiro motivo: Bolsonaro faz apologia aos militares que se envolveram com tortura durante o Golpe Militar no Brasil (1964 a 1985), em especial ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra – ele usava o codinome de Dr. Tibiriçá durante as torturas aos presos políticos. Ele ficou impune graças à lei de Anistia (1979) negociada entre os civis e as Forças Armadas. No século XX, aconteceram seis golpes militares na Argentina, do último (1976 a 1983), foram condenados a penas que oscilaram entre 25 anos a perpétua oficiais e graduados que se envolveram em tortura. Um deles foi o general Jorge Videla (falecido em 2015).

Movimentos populares como Asociación Madres de La Plaza de Mayo não deixam cair no esquecimento o sofrimento dos presos políticos, lembrou Jair Kriscke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), de Porto Alegre (RS). Kriscke é uma das pessoas mais conhecidas e respeitadas nos assuntos das ditaduras do Cone Sul. “Os argentinos levam muito a sério tudo o que se refere a torturadores”.  Bolsonaro não é mal visto pelos argentinos por ser capitão da reserva do Exército. Mas pela apologia que faz aos torturadores e pela negação do Golpe Militar de 64. O segundo motivo  que levou Macri a perder votos devido ao apoio político do presidente brasileiro: Bolsonaro vive na Guerra Fria – quando o mundo era dividido entre esquerda e direita.

Na visão de mundo de Bolsonaro, Cristina Kirchner é de esquerda. Ela é populista e não de esquerda. Os  populistas na Argentina estão ligados ao calote da dívida externa, em 2002, deixaram de pagar U$ 28 milhões, é causaram um tumulto nas bolsas do Cone Sul. Por ter um sistema educacional bem superior ao brasileiro, o argentino médio é uma pessoa esclarecida. Sabe diferenciar quem e quem. O terceiro motivo: em junho, quando visitou a Argentina, Bolsonaro presenteou Macri com um boné da seleção brasileira. E Macri se deixou fotografar com o boné. Não sei como é em outros cantos do mundo. Mas aqui, na América do Sul, a rivalidade futebolística entre argentinos e brasileiros é um assunto muito sério. Liguei para colegas repórteres em Buenos Aires e perguntei sobre a foto de Macri com o boné da seleção brasileira. “Pegou mal”, foi o que me falaram.

A maior fonte de informações do repórter é a história, principalmente a que não foi escrita. Mas sobrevive na mente de quem viveu o  período. A América do Sul é um continente marcado pelo sofrimento das ditaduras militares. Ao se identificar com esse período da história e defender os torturadores, o presidente do Brasil torna-se um “elefante em uma  loja de cristais”. Conheço bem o interior da Argentina. Fiz muitas reportagens nessas áreas, principalmente com brasileiros que vivem por lá. Estive por várias semanas  em Buenos Aires trabalhando no atentado terrorista que aconteceu à Associação Mutual Israelita Argentina, em 1994, que resultou em 85 mortes. E outras tantas vezes fazendo outras reportagens. O que aprendi é que os argentinos odeiam que estrangeiros se metam em seus assuntos internos. Principalmente brasileiros. Ninguém falou isso para Macri?  

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