A primeira semana do mês de agosto de 2020 tem um lugar na história do Brasil. A seguir a marcha da matança de brasileiros pela Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, nos próximos dias o país irá atingir a marca de 100 mil mortos. No final da manhã desta segunda-feira (03/08), segundo o consórcio dos jornais que faz a contabilidade do avanço da doença, o país já somava 94.226 óbitos. A média diária de mortes tem sido de mil e poucas. Não vou encher a paciência do leitor comparando essas 100 mil mortes com as que tiveram outras causas, como homicídios e acidentes de trânsito. A pergunta que nós repórteres precisamos ajudar o nosso leitor a entender é a seguinte: qual é a responsabilidade da política negacionista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por termos chegado a esse número? Até agora, o que sabemos sobre esse vírus é que não existe vacina nem medicação apropriada para tratá-lo. O que temos é o isolamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como estratégia para retardar o seu alastramento e com isso dar tempo para as autoridades preparar o sistema de saúde.
Tirando do cenário a disputa partidária ou qualquer outro tipo de assunto que não seja a emergência sanitária imposta ao país pela Covid-19. A história desse vírus começou em janeiro e desde então só tem piorado. Na contramão das recomendações da OMS está o presidente da República, que não só é um negacionista como também tem sido um sabotador dos prefeitos e governadores que seguiram as orientações da OMS. Em abril, o presidente demitiu o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta porque ele defendia o isolamento social. Desde então a pasta tem sido um entra e sai de ministros. Atualmente é ocupada interinamente pelo general da ativa Eduardo Pazuello, um cumpridor de ordens do presidente nos assuntos referentes ao enfrentamento do vírus – há abundância de matérias na internet. Por conta do general ser da ativa, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes advertiu que a presença de Pazuello no Ministério da Saúde tornava as Forças Armadas cúmplices da política genocida de Bolsonaro referente à Covid-19. Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica protestaram contra Mendes. Eles deram um tiro no mensageiro. O ministro foi apenas o mensageiro. Ao redor do mundo as práticas do presidente na questão do vírus são descritas como genocidas.
A questão é a seguinte, meus colegas repórteres. Se Bolsonaro tivesse seguido as recomendações da OMS e não tivesse boicotado os governadores e prefeitos a Covid-19 teria conseguido matar 100 mil brasileiros? Ninguém sabe. Mas uma coisa é certa. Todos teriam certeza de que o presidente da República teria honrado o juramento que fez quando assumiu o cargo, de fazer de tudo pelo bem-estar da população. Ao narrarmos a história do vírus no Brasil é como se estivéssemos descrevendo uma batalha do presidente da República contra cientistas, médicos e pessoas de bom senso. O dia seguinte ao que Bolsonaro sair do cargo os processos que estão nos tribunais ao redor do mundo contra a política dele na questão da Covid-19 vão continuar andando. A hora que os historiadores forem pesquisar esse período da vida brasileira, terão uma montanha de informações disponíveis sobre o assunto. Portanto, meus colegas repórteres, é muito importante construir as nossas matérias com informações simples, corretas e escritas de maneira direta sobre o cotidiano dos brasileiros durante essa emergência sanitária.
O que os brasileiros estão vivendo nos dias de hoje jamais foi imaginado, mesmo pelas mentes mais férteis. A situação é cheia de fatos inéditos. Sempre que alguém em uma família é infectado pela Covid-19 vem à mente de todos o pesadelo da falta de vagas no sistema hospitalar. Já vimos isso acontecer em Manaus (AM), onde as pessoas foram enterradas em covas coletivas, e no Rio de Janeiro, com pacientes morrendo nos corredores dos hospitais por falta de leitos nas UTIs. A cada espirro, cada tossida ou mesmo uma simples coriza as pessoas pensam o pior. Aqueles que podem estão encurralados dentro de casa. E a grande maioria, principalmente os moradores das favelas, vive caminhando sobre o fio da navalha sem ter sequer água potável para lavar as mãos. Todas essas informações que estou desfilando não foram tiradas da minha cabeça. Elas estão nas nossas matérias. Histórias que contamos diariamente na cobertura da emergência sanitária. Na semana dos 100 mil mortos pela Covid-19, como chegamos a isso e quem é o responsável? A pergunta que temos de responder ao nosso leitor. É simples assim.