Como se diz nas cidades pequenas do interior gaúcho, “até as pedras da rua” já sabiam que o presidente da República Jair Bolsonaro iria brigar com seus colegas do Partido Social Liberal (PSL). O conteúdo dos noticiários tem se concentrado nos motivos da briga: dinheiro do fundo partidário, uma bolada que pode chegar a R$ 300 milhões. Mas que é uma quantia até modesta, tendo em vista os danos que pode causar para a economia nacional no atual momento da administração federal. Lembro os meus colegas repórteres que a maneira como Bolsonaro administra o país jamais havia sido vista. As coisas andam como uma montanha-russa. A explicação que damos aos leitores pela manhã não vale mais nas primeiras horas da tarde. Uma loucura que acontece em um país enorme com a economia estagnada e com quase 13 milhões de desempregados.
Essa é a realidade. Dentro desse quadro, o que a saída de Bolsonaro do PSL pode mudar? Nada. Mas pode piorar se resultar em um grande impasse político. Bolsonaro entrou no PSL no ano passado e é o seu oitavo partido desde que iniciou a carreira política, em 1988, como vereador no Rio de Janeiro (RJ). A grande diferença é que agora ele é presidente do Brasil. E perante os investidores internacionais, especialmente os fundos de pensão, um movimento desses chama a atenção por se tratar de um racha em um grupo político. E sempre que acontece esse tipo de briga, ninguém sabe como ela termina, porque os dois lados têm munição um contra o outro. O empresário Luciano Bivar, presidente do partido, já avisou que tem “coisas para falar” sobre Bolsonaro. Ontem (15/10), Bivar teve o seu escritório vasculhado pela Polícia Federal (PF) que cumpria uma mandado de busca e apreensão. Portanto, até que a disputa se decida, os investidores ficam parados.
Claro que a briga não vai mexer com os alicerces da democracia brasileira. Eles são sólidos. Mas vai refletir na imagem internacional do Brasil, que é uma das piores da história perante os compradores dos produtos brasileiros, principalmente os ligados ao agronegócio – proteína vegetal e animal. A imagem do país ficou seriamente abalada pelas queimadas na Floresta Amazônica, que foram manchete em vários jornais ao redor do mundo. Pressionados por autoridades internacionais que o acusavam de ter feitos discursos que incentivaram os madeireiros clandestinos a destruir a floresta, como se fosse uma metralhadora giratória Bolsonaro disparou ofensas contra vários chefes de estado europeus, entre eles o presidente da França Emmanuel Macron e sua mulher Brigitte. Na ocasião, 230 fundos de pensão, que administram uma verba de US$ 16 trilhões, alertaram o Brasil sobre a necessidade de garantir a conservação da floresta. Vários países ameaçaram boicotar os produtos brasileiros por conta da queima da floresta. Claro que eles estão atentos à disputa do presidente com os seus colegas de partido.
Há outra história perdida no meio da confusão: as eleições municipais de 2020. No início do mês de outubro, publiquei o post “A eleição municipal de 2020 pode virar um plebiscito do governo Bolsonaro?”. É claro que a questão das eleições está inserida nessa briga. Todos sabem que se a economia não decolar até os primeiros meses do próximo ano, Bolsonaro não fará falta nos palanques da campanha municipal. Isso seria a decadência do prestígio político dele, que elegeu um monte de gente, incluindo governadores, em 2018.
Aqui gostaria de falar com os meus colegas repórteres veteranos e com os jovens que estão envolvidos na correria do dia a dia das redações. Essa montanha-russa que é o governo Bolsonaro acaba nos tirando o foco dos noticiários. Não há como não abrir espaço para absurdos como a ofensa contra a mãe de um ciclista“ – há matéria na internet. Mas temos uma saída. Sem precisar escrever uma tese – usado no jargão das redações como sinônimo de matéria longa – podemos colocar uma frase nos conteúdos lembrando que existem problemas maiores à espera da atenção do presidente. O certo é o seguinte: as novas tecnologias fazem as informações darem a volta ao mundo em velocidade jamais vista. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump usa isso a seu favor. Assim como Bolsonaro. Nós precisamos alertar os nossos leitores que isso também significa um tremendo risco para a economia do país. É simples assim.