As próximas eleições para presidente dos Estados Unidos precisam ser analisadas por nós jornalistas com uma lupa, porque ela vai revelar se a oposição americana conseguiu entender e fabricar um antídoto à maneira de fazer política inaugurada pelo presidente Donald Trump, do Partido Republicano. O jeito de fazer política que elegeu Trump tem três pilares: os conteúdos dos discursos são nacionalistas, racistas, contra a preservação do meio ambiente e por aí afora, como, por exemplo, a construção de um muro entre os Estados Unidos e o México. O segundo pilar é a montagem de uma máquina de divulgação para esses conteúdos nas redes sociais operada por profissionais de alta qualificação. E, por último, um ataque maciço contra a imprensa tradicional e a credibilidade dos jornalistas. O mesmo roteiro foi seguido pelo presidente eleito no Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido-RJ).
Essa maneira de fazer política inaugurada por Trump tem os fundamentos do totalitarismo que se assemelham muito aos do Partido Nazista da Alemanha nos anos 30. Claro que os tempos são outros e os americanos têm uma das democracias mais sólidas do mundo. Mas, para que continue assim, alertam os estudiosos, é fundamental que exista equilíbrio na disputa política. Até agora Trump parece ser imbatível. Não têm apresentado novidades os discursos dos candidatos do Partido Democrata que estão disputando a indicação para concorrerem à presidência dos Estados Unidos. Muito menos os candidatos republicanos que buscam a indicação contra Trump. Essa é a conclusão a que chego depois das conversas que tive com colegas repórteres americanos e de estar atento aos noticiários.
A eleição americana não está longe, é em novembro. Longe está a brasileira, que será em 2022. O governo Bolsonaro fechou um ano. E creio ser o primeiro presidente brasileiro que governa sem oposição. Os partidos da esquerda, principalmente o PT, os de centro e da direita, como o PSDB e o MDB, não conseguiram montar um discurso de enfrentamento com o governo. A oposição está sentada assistindo ao show de Bolsonaro. Na esperança que ele seja consumido pelas suas próprias contradições, como defender bandeiras liberais na economia, privatizações e desregulamentação dos mercados de capitais, e ultraconservador nos costumes, como o programa de controle de natalidade para jovens através da abstinência sexual. Na semana passada (03/02), eu liguei para dois políticos que foram fundadores do PT e do PSDB, e fiz a seguinte pergunta: “Se as contradições do governo Bolsonaro não o enfraquecerem, mas garantirem a sua reeleição, o que vai acontecer?” A conversa foi longa e sem novidades. Em linhas gerais, os dois culpam a internet. De onde eles tiraram essa conclusão? Do que nós noticiamos. Em uma observação atenta a tudo que publicamos em jornais (papel e site), rádios e TVs sobre a vitória de Bolsonaro, salta aos olhos a insistência em afirmarmos que ela se deve ao uso das novas tecnologias de comunicação. Acrescentamos: “… como fez o Trump”.
Atirar no colo das novas plataformas de comunicação existentes na internet o sucesso de Bolsonaro é dar um tiro no mensageiro. É o que tenho dito nas minhas palestras pelas redações dos jornais no interior do Brasil e nas conversas com estudantes de jornalismo. A questão não é o meio. É o conteúdo das mensagens. Recentemente (24/01), o professor Rodrigo Nunes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), publicou o artigo “Faltou a Alvim a arte de seus colegas de governo”, no caderno Ilustríssima, da Folha, sobre os conteúdos dos discursos do governo. Há outros trabalhos e documentários sobre o mesmo assunto a respeito do Trump. Resumindo: a exemplo do que Trump faz, os absurdos ditos por Bolsonaro, seus filhos e muitos dos seus ministros viram manchetes nos noticiários e isso os mantém “na vitrine”. Ou seja, nós jornalistas fizemos parte da engrenagem que dá publicidade ao modo de governar de Trump e Bolsonaro. Como diz o dito popular: “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Mesmo que aconteça um milagre e as oposições consigam se organizar para enfrentar a “máquina de promoção de Bolsonaro”, se as oposições não entenderem que a razão do sucesso do presidente é o conteúdo do seu discurso, e não sua máquina de propaganda, terão problemas. Por tudo isso é bom ficar de olho na oposição a Trump para ver como ela vai fazer.
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