Como será o dia seguinte ao interrogatório, do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP) pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, na 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba (PR)? A minha visão do que irá acontecer na quinta-feira é de repórter.Todas as informações disponíveis sobre o caso indicam que será mais um dia comum na vida dos brasileiros. A força-tarefa da Lava Jato irá seguir o seu trabalho, e Lula continuará a sua pregação pelo país em busca de mais um mandato de presidente da República. Se houver enfrentamento entre os apoiadores do PT e da Lava Jato, ele será resolvido por um aparato policial que foi montado.
Lula é acusado de ter aceitado da empreiteira OAS um apartamento tríplex e o pagamento do transporte e do armazenamento de seus bens de Brasília para São Paulo, quando deixou a presidência. Moro usará no interrogatório informes obtidos pela força-tarefa da Operação Lava Jato em delações premiadas de ex-executivos da OAS e dados conseguidos no cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente.
No final de semana, revistas e comentaristas políticos descreveram o encontro de Lula e Moro como se fosse uma final de campeonato de futebol. Se Moro vencer, o projeto do Lula para ser o próximo presidente da República já era. Se o Lula vencer, a Lava Jato do Moro também já era. É uma maneira muito simplista de apresentar uma realidade aos leitores. Vejamos o seguinte: Moro é um juiz federal, um homem obstinado pelo seu trabalho. Lula ralou muito para conseguir se eleger duas vezes presidente do Brasil, o que lhe rendeu um capital político enorme.
As instituições brasileiras nunca estiveram tão fortes como nos dias atuais. E a vida dos parlamentares nunca esteve tão exposta como hoje. Os trabalhadores brasileiros estão engalfinhados em duas grandes lutas: os empregados, lutando com unhas e dentes para manter os seus emprego; os desempregados – que já somam 14 milhões (quase metade da população da Argentina) –, na batalha desesperada para conseguir uma colocação. Enquanto isso, deputados federais, senadores, ministros e o próprio presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), que foram citados em delações premiadas por terem recebido propina de empreiteiros, estão fazendo a reforma da Previdência Social, que irá mexer com a vida de todos os brasileiros.
Esse é o quadro. Pergunto aos meus colegas repórteres, principalmente aos mais jovens: sendo esse o cotidiano do nosso leitor, ele tem tempo para ler, ouvir ou ver o que não interessa para ele? Não. Os meios de comunicação social estão perdendo anunciantes, assinantes e credibilidade, não por manipulação de informações – o leitor é inteligente para perceber quando tem sacanagem na notícia. Mas porque estão cometendo erros infantis de avaliação, com é o caso do interrogatório do Lula pelo Moro. Vamos guardar a bola de cristal e começar a trabalhar em busca de informações.